segunda-feira, 30 de junho de 2014

Esqueletos no armário

Quem não os tem?
Quem não guarda para si segredos que mais ninguém sabe? Segredos que podem ser medos, receios, coisas que se fizeram, que ficaram por fazer, memórias que nos atormentam, conversas que não chegaram a existir, palavras por dizer, atos por consumar.
Acredito que as pessoas bem resolvidas são mais felizes. Exatamente porque ao abrir o armário, ao enfrentar o medo do que está lá dentro, percebem que dos esqueletos só sobra pó e que, com um sopro, tudo se desvanece.
Hoje foi um dia importante para mim. Muito importante. Um desses dias em que abri (limpei e  fechei) um desses armários (já era um Closet digno de uma Kardashian, na verdade), recheado de fantasmas e medos que me assombraram e perseguiram durante anos. Sim, anos. Anos em que adiei, não quis encarar, fingi não perceber o peso que tinha em mim, guardei em silêncio uma mágoa só minha, de noites mal dormidas com sonhos recorrentes com o mesmo tema... enfim.. o chamado recalcamento.
Não interessa dizer o que é em concreto, porque o objetivo é apenas partilhar o imenso alívio, orgulho e felicidade que nos invade quando finalmente conseguimos encarar os medos de frente (sejam eles quais forem.... e não existem medos menores ou maiores... cada um sabe aquilo que o atormenta e o que lhe custa encarar), e percebemos que nos superámos, que "aquilo" deixou de ser um fantasma, que tinha solução, que não era tão mau assim, e que deixou de ser um peso, uma constante nuvem cinzenta sobre a cabeça, um assunto por resolver, um esqueleto a ocupar espaço precioso no armário para uns lindos Louboutin ou para umas quantas Louis Vuitton (no sentido metafórico, claro está... ou então não!).

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Diário da noiva #1

O primeiro post do Diário da noiva é sobre outra que não eu. Alguém que conheci há pouco tempo mas que já chamo e sinto como Amiga. Começou por ser colega, mas foi exatamente o facto de ambas estarmos noivas que nos aproximou (isto deve ser um bocado como as grávidas, que se "ajuntam" por osmose para partilhar histórias, ideias, nervinhos e afins). Em pouco tempo criámos uma cumplicidade e empatia fortes, que nos fizeram perceber que tínhamos muito mais em comum do que o facto de irmos casar em breve.
Sábado é o grande dia dela e como ainda não estou muito nervosa por mim, estou por ela. Acompanhei os últimos preparativos, ajudei no que pude, partilhámos desabafos e angústias próprias de quem vai casar e vive numa polaridade constante de estados de espírito onde passar de lágrimas de alegria para lágrimas de tristeza ou irritação é uma questão de microssegundos.
Hoje estive com ela  e apesar de todo o nervosismo e ansiedade que sente, vi aquele brilho no olhar tão típico das noivas. Está apaixonada, verdadeiramente apaixonada, e feliz. E isso vê-se tão bem! Sempre desejei casar assim: apaixonada. Verdadeiramente apaixonada. Não faria sentido de outra forma. A meio gás, porque sim, porque já estamos juntos há tanto tempo, porque ele me vai fazer a vontade, porque a relação está morna, porque é suposto dar esse passo... E felizmente é assim que vou casar: após 4 anos e meio de namoro, mas apaixonada, encantada, rendida, com borboletas no estômago quando ele me faz surpresas e o coração a bater mais forte quando a chave entra na fechadura. 
À minha amiga desejo as maiores felicidades do mundo, que desfrute ao máximo do dia, que esqueça tudo o que ficou para trás, que seja o início de uma nova etapa ainda mais feliz. Sei que será! :)

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Da indignação

"Sentimento de fúria ou desprezo, geralmente provocado por algo considerado ofensivo, injusto ou incorrecto. = AGASTAMENTO"
 in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
 
Hoje, mal coloquei o pé na rua, deparei-me com o seguinte cenário: um Sr. de 70 e muitos anos, fato cinzento, camisa branca, olho muito azul, pele clarinha, figura magra e trémula, tropeça ao subir para o passeio e cai, sem qualquer amparo, com a cara no chão. Ficou imediatamente a sangrar imenso do nariz e da boca, visivelmente atordoado com o impacto da queda, um pouco confuso, mas ainda assim levou a mão ao bolso e tirou um lenço, de pano, impecavelmente lavado e dobrado, ao rosto. O sangue escorria para a calçada, ele tentava levantar-se mas não conseguia, entre tonturas e tremores. Ao lado dele passavam várias pessoas, atarefadas, atrasadas para os trabalhos, para a apanhar os transportes, a pensar nas suas vidas, fixavam o olhar no Sr, que, com esforço, conseguiu levantar-se. Tudo isto aconteceu em cerca de 30 segundos (o tempo que demorei a sair do prédio, até chegar ao local no passeio onde ele se encontrava). Durante todo esse tempo, e embora fosse rara a pessoa que não reparasse no que estava a acontecer e por isso abrandava para olhar, mas NINGUÉM foi capaz de se dirigir a ele para o ajudar. Ninguém. Ninguém lhe perguntou o que tinha acontecido. Se estava bem, consciente. Ninguém pensou sequer em chamar uma ambulância, dizer-lhe que se sentasse, dar-lhe água, outro lenço para ajudar a parar o sangue. Nada. Ninguém parou durante 10 segundos da sua atarefada manhã para auxiliar um desconhecido. Assim que consegui chegar até ele perguntei-lhe como se chamava - "António. Tropecei no passeio... que chatice!"- Ofereci-me para ir com ele ao hospital mas não quis. Disse que morava perto e só queria ir para casa lavar a cara. Expliquei-lhe que tinha ferimentos graves no nariz, que era melhor ser visto por um médico. Insistiu que só queria ir para casa." Acompanhei-o então. Tremia e estava envergonhado. Tinha tropeçado, caído no meio da rua, estava magoado, com dores, mas acima de tudo tinha vergonha "porque estava velho e caiu ali." Deixei-o na porta do prédio, mas antes perguntei se tinha alguém em casa. Respondeu um vago "Sim...". Não sei se teria, mas mais também não podia fazer mais.
Segui o meu caminho de coração apertado, estômago às voltas, não contive as lágrimas e chorei. De pena, de raiva e indignação. Não entendo como é que nos dias que correm, onde toda a gente se revolta e indigna por tudo e por nada no Facebook, onde as ondas de manifesto sobre os penteados do Cristiano Ronaldo ou o nome do filho do Kapinha se tornam virais, onde tanta gente apela aos maus tratos dos animais com fotos chocantes, ou de crianças com doenças raras e fotos igualmente perturbadoras, mas depois, no mundo real, na rua, na calçada de um passeio, quando uma coisa destas acontece, ninguém vê, ninguém quer saber, ninguém está para se chatear e estender a mão a quem precisa. A quem está ali, de carne e osso, a precisar de ajuda.
Fico indignada com a passividade, e ao mesmo tempo com o tempo que se perde com indignação alheia, de coisas que não interessam nem ao Menino Jesus, com a vida dos outros, com fait-divers.
O que aconteceu hoje mudou o meu dia. Fez-me pensar em como não custa nada estarmos mais atentos ao que nos rodeia de facto, e o tempo que se gasta com coisas tão fúteis e vazias em mundos virtuais paralelos.
Espero que o Sr. António tivesse, de facto, alguém em casa que o tenha ajudado. Espero que este episódio me sirva de lição para estar atenta e ajudar, sempre que possível, quem precisar, nas coisas mais pequeninas, que nos passam tão ao lado. Espero que quem me ler sinta essa mesma consciência de que basta um pequeno gesto para mudar, melhorar, reconfortar o dia de alguém.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Constatação do dia

Não só gosto de escrever (tanto!), como gosto muito de me ler.
Ainda que mais ninguém me leia como só eu o faço, e que não entenda o que realmente quero dizer. Eu entendo. Eu revejo-me naquilo que eu escrevo. O que significa que não me engano nem escondo no politicamente coreto, no cordial nem no "o que é que vão pensar do que eu escrevi?".
Eu sou mais eu em palavras, frases e parágrafos escritos, do que aquilo que alguma vez possa tentar exprimir na oralidade.
Gosto de me ler, sem falsa modéstia. E gosto de já não ter qualquer pudor em afirmar o que realmente gosto em mim.

domingo, 15 de junho de 2014

O poder do umbigo

"Umbigo". Curioso como foi esta a palavra-chave que escolhi há 7 anos para dar nome a este blogue, por me querer focar apenas e só em mim, neste espaço. Acabou por ser também uma espécie de antevisão daquilo que ao longo do tempo mais tenho aprendido sobre o ser humano. Seres egoístas, egocêntricos, virados para o próprio mundo de uma forma que cega, faz acreditar piamente numa realidade que se escolhe ver, e que, tantas vezes, é tão diferente daquela que o resto do mundo de facto vê. Estou a divagar, quando no fundo aquilo que me apetece dizer é tão simples quanto isto: ando farta de gente que se move apenas pela força gravitacional do próprio umbigo. Farta de arranjar desculpas e justificações para o que não merece, nem tem, de ser justificado. Cada um é como é. Ponto. E se for egoísta, se só pensar em si, se não conseguir ficar genuinamente feliz pelo outro, não conseguir sair do seu "imenso" (na verdade tão pequenino...) mundo, se não consegue dar mais do que dá, fazer mais do que faz, estar ou mostrar-se mais presente ou disponível do que tem feito... então essa é uma questão que essa alma tem de resolver (se sequer se aperceber, e assim o quiser). Não eu. Nos últimos meses, que têm passado a voar, embora a felicidade seja mais do que me muita, nem tudo têm sido rosas na minha vida. Tenho problemas, como qualquer outra pessoa, tenho momentos menos bons, tenho pessoas de quem gosto muito a passar por momentos verdadeiramente dolorosos e tento estar o máximo presente para elas, divido a sua tristeza como divido a alegria, não fujo, vou gerindo, sem me esquecer da minha própria alegria nem da minha própria tristeza. Flash news: dá para conciliar! Tenho dias em que agradeço profundamente tudo de bom que tenho na minha vida, e tenho outros em que só consigo ver o que corre menos bem, o que me falta, o que me deixa ansiosa, desmotivada, apreensiva, e acima de tudo desiludida. E, estupidamente, tenho deixado quase sempre que a desilusão leve a melhor perante a felicidade por ter saúde, ir casar com o Homem que amo, ter a família e amigos reunidos nesse dia, por ser o início de uma fase tão importante da minha vida. Deixo que as falhas dos outros falem mais alto, tomem mais importância, mais valor, do que as minhas conquistas, as minhas alegrias, o alívio que sinto por saber que, felizmente, eu não sou assim. Há uns dias atrás tive um desses momentos, levado ao expoente máximo, onde consegui juntar tudo o que me aborrece, deixa triste, angustiada, irritada, com raiva, frustrada (trabalho, amizades, saudades da minha mãe... tudo junto numa espécie de furacão!)... e quando dei por mim estava a exteriorizar tudo, numa crise de ansiedade. Quem sofre deste mal sabe o quão angustiante se pode tornar, e o tempo que leva até estabilizar. Felizmente, no meio da crise, de qualquer crise, tenho sempre os meus portos de abrigo, que não me falham, e que mais uma vez estiveram lá para mim. Quando finalmente o furacão passou, prometi a mim mesma: "Foi a última vez que deixei que algo ou alguém me perturbe desta forma. Não vou permitir que aquilo que eu não controlo me controle a mim, ao meu estado de espírito, à minha energia e bem-estar." Não sou melhor do que ninguém, mas dou por mim a pensar que a falta de noção que algumas pessoas têm sobre si mesmas e a forma como estão na vida, se reflete em mim em dobro, ou triplo, por elas. E por isso mesmo me custa tanto aceitar determinados comportamentos. Me custa tanto desvalorizar, ficar indiferente ou não me deixar afetar. Mas uma coisa é certa: se o umbigo dessas pessoas tem assim tanto poder que não as permite levantar a cabeça, olhar em volta e fazer um exercício sobre aquilo que têm feito ou deixado de fazer, o meu também terá o mesmo poder em fazer com que me foque única e exclusivamente nele, pelo menos neste momento tão importante, tão único, tão meu... (vou repetir para ver me convenço) tão MEU!