-“Esta é que é a tua filha? É tão parecida contigo, Paula!”
-“Eu olho para a tua e vejo-te a ti, com esta idade, Gina!”
Lembro-me tão bem desta conversa… Nesse dia, em que fomos apresentadas, não falámos uma com a outra. Ficou cada uma atrás da saia da sua mãe, a olhar em volta, naquela que iria ser a nossa nova escola. Foi à porta do pavilhão B, no ciclo, quando tínhamos visto pela primeira vez que íamos ser da mesma turma, o 5ºE.
Na altura achei-te graça porque eras pequena como eu, usavas uma fita na cabeça a prender a franja como eu, e estavas tão “às aranhas” quanto eu.
Eu vinha da escola de Santiago, tu da de S.Romão. E talvez por isso, por ambas nos sentirmos intrusas naquela turma onde grande parte já se conhecia, acabamos por nos aproximar mais. Isso e o facto de ambas aparecermos no primeiro dia com uma mochila às costas que tinha o dobro do nosso tamanho, saia de pregas e collants. Para além disso ficámos as duas presas, literalmente entaladas, na porta do pavilhão C, porque resolvemos correr disparadas como se o mundo fosse acabar naquele preciso instante, mal ouvimos soar o primeiro toque. Ficámos debaixo daquele miúdo gordo, enorme, que teimava em não sair de cima das nossas pequenas pernas, pequenos braços, pequenas cabeças de fitas que entretanto voaram com o impacto.
Seguiram-se aqueles que eu ainda agora considero os melhores anos da minha vida. E tu sempre estiveste presente. Ficávamos juntas nas aulas de matemática do Catarino, e nas de música com o "Pestana Branca". Éramos bem comportadas, mas morríamos de vontade de fazer uma pequena rebeldia de vez em quando. Éramos as mais pequeninas, também as que gostavam mais de dançar. As nossas coreografias de festa de fim de período faziam um sucesso enorme, e nada nos dava mais gozo do que ir aos aniversários umas das outras. Com singelos 10 dias de diferença, ambas Sagitárias puras, festejámos várias vezes juntas, e juntas éramos as únicas que ainda não tínhamos o período que nos impedisse de fazer as aulas de natação. E nunca nos importámos com isso… Até que apareceu...com um mês de diferença, e foi uma grande festa!
A minha mudança de turma no secundário em nada mudou a amizade que nos unia. Os intervalos continuavam a ser passados juntas, os fins de tarde sem aulas também, as idas ao cinema e ao "Mónaco". As férias em Aguadulce, uma semana para sempre recordar… os teus avós que me trataram como neta, os pistolões da D.Palmira a apimentar a coisa, e o Javier, coitadinho, a lamber o gelado com ar sofredor.
A viagem de finalistas…foi…a viagem de finalistas. Boa demais para descrever ou resumir. E mais uma vez, juntas, no mesmo quarto, a partilhar roupinhas que só nos serviam a nós duas, tamanhos XXS, e a descobrir a Vodka Morango, numa sapataria, em plena luz do dia.
A entrada para a faculdade, que já foi há tanto tempo, não parece tanto assim pelo facto de sempre continuarmos presentes na vida uma da outra. Tu em Coimbra, eu em Lisboa. Tenho noção de que ambas construímos caminhos paralelos, que pouco se cruzaram e do qual não participamos activamente. Mas sinceramente, acho que não houve nada de realmente importante que não tivesse partilhado contigo na hora, apesar da distância.
No dia mais triste da minha vida estiveste o tempo todo ao meu lado.
Seguraste na minha mão, abraçaste-me, deste-me o ombro, o colo, o coração.
Nos tempos que se seguiram deste-me espaço com amizade incondicional. Nunca me julgaste pelas escolhas más, menos boas ou totalmente despropositadas à vista dos outros. Apoiaste-me em tudo, cegamente, mesmo naquilo que tanto eu como tu sabíamos ser errado.
Não nos telefonamos todos os dias. Não mandamos mil mensagens. Não sei de tudo com todos os pormenores da tua vida. Não conheço algumas das tuas amigas tão importantes quanto eu. Não te procuro constantemente para desabafar, chorar ou rir.
Mas guardo-te no meu coração, fazes parte de mim, de quem hoje sou, da menina que um dia fui. Sempre fomos assim uma para a outra, sem esforços, sem discussões, sem atritos, sem complicações.
Sempre estivemos lá uma para a outra, sem pestanejar, para o bom e para o menos bom. Sempre disse que de todas as minhas amigas eras aquela que achava mais parecida comigo. Sempre tive muito orgulho e admiração por seres tão boa aluna, tão empenhada, tão determinada, por conseguires todos os teus objectivos com tanto mérito. Tão boa profissional, namorada exemplar, Mulher linda por dentro e por fora, tão bom coração, tão minha Amiga.
E agora vais casar…
De véu e grinalda. De vestido de Princesa que ainda não vi, mas que toda a vida imaginámos entre conversas e risinhos, tentando adivinhar quem seria o nosso Príncipe Encantado. E tu encontraste o teu. E ele encontrou-te a ti. E são felizes… e isso faz-me muito feliz.
É um orgulho imenso partilhar este momento da tua vida contigo, Kika.
Tudo o que eu desejo para ti, é o mesmo que desejo para mim, do fundo do coração.
Obrigada por existires na minha vida, tão simples e discreta. Tão forte e presente. Tão minha Amiga.
Um beijo enorme,
Rita
3 comentários:
Parabéns por essa amizade tão verdadeira.
Também tenho duas amigas assim desde os 12 anos e os meus filhos brincam com os delas quando nos vemos nas férias. Bj
está lindo. amizades assim é uma coisa de outro mundo :)
Parabéns pelo blog! Adorei beijinhos
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