Há quem não goste de ser surpreendido. De ter de lidar com o inesperado, com o imprevisto. Ter de reagir perante algo que não estava à espera.
Eu gosto... ou gostava.
Não me lembro da última vez em que aconteceu. Mesmo.
Desde miuda sempre descobri antes do tempo qual ia ser a minha prenda de aniversário ou de Natal. Não porque andasse a bisbilhotar, mas porque acabava por ver a minha Mãe embrulhar a prenda, ou ouvir uma conversa entre Avós, até mesmo apanha-los em flagrante a comprar a Barbie que eu tanto tinha pedido. Eu sempre disfarcei e fingia que não via nem ouvia nada. E na hora H fazia a maior cara de surpresa e felicidade, (que era sentida!), porque sabia que metade da alegria do momento se devia ao prazer de receber, mas a outra metade ao prazer de quem ma dava.
Hoje em dia as coisas não mudaram muito. Agora já não falo das prendas, mas das atitudes, das posturas, das escolhas que as pessoas que me rodeiam fazem.
É difícil alguém surpreender-me. Tenho o dom (?) de conseguir antecipar tanta coisa, que poucas são as vezes em que sou realmente apanhada de surpresa.
Infelizmente quando isso acontece é quase sempre pela negativa, o que acaba por fazer com que dê por mim sem sentir falta de grandes surpresas. Mas de vez em quando, como em tudo na vida, bate assim um vaziozinho... nada de especial, é mais como um ratinho que se tem no estômago, mesmo antes de se sentir fome a sério, onde dou por mim a sentir falta de ser realmente surpreendida.
De que alguém se dê ao trabalho de fazer algo que eu não esteja absolutamente nada à espera ou a contar. Que me deixe de queixo caído. Que se antecipe à velocidade-luz do meu pensamento, me troque as voltas, e me faça acreditar que ainda é possível eu ser enganada... para o bem!
Não me lembro de quando foi a última vez que isso aconteceu. E não quero ferir susceptibilidades de quem possa achar que me fez X ou Y e agora estou praqui a ser uma mal agradecida e a querer chamar à atenção.
Nada disso...
Isto é apenas e só conversa de quem está já com a cara dormente de levar chapadinhas da vida, e de quem me rodeia. Nem são aquelas de luva branca que eu possa dizer: apanhei, mas também mereci! Não... são daquelas que eu vejo a vir, como que em câmara lenta, mas não me consigo desviar... e então acabo sempe por ser desagradavelmente surpreendida, ainda que em parte já estivesse mais ou menos a contar.
E o problema é mesmo esse... é que eu acabo por estar sempre a contar... e estou farta. Posso simplesmente ser "naive", ingénua, inocente, viver a zeros, ser tábua rasa do que ficou para trás e me faz activar o alarme ao meio sinal de perigo?
Será que já não há quem me surpreenda, ou sou eu que não me deixo mesmo surpreender?
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