quarta-feira, 12 de maio de 2010

Perfeitas imperfeições


Não é facil admitir fragilidades. Abrir o coração, dizer as coisas como elas realmente são, o que nos deixa tristes, que desilude e quase nos faz atirar a toalha ao chão. Não é facil admitir que o cenário não é tão cor de rosa como o pintamos, ou como os outros o vêem. Que no melhor pano cai a nódoa. Custa mostrar e assumir que se calhar ainda há muito que nos falta alcançar, quando aparentemente parecemos satisfeitas com tudo o que temos. Custa dizer que estamos a sofrer, que nos magoaram, que não sabemos muito bem lidar com a situação e que temos o orgulho ferido. Que sentimos que se calhar não temos o controlo que pensavamos ter, que há quem acabe por nos controlar, influenciar, atingir, mais do que pensavamos e gostariamos que o fizesse. Custa admitir que nem sempre somos femme fatale, e que não beijam o chão que nós pisamos, que não nos idolatram, que não falecem por nós.
Mas tem um valor imensamente maior conseguir fazer tudo isto que custa, do que simplesmente colocar uma máscara de personalidade forte, inatingível e ausente de dor. Do que guardar para si frustrações e mágoas, e antes perder os dois bracinhos do que admitir que nem sempre as coisas correm bem. Sobretudo nos dias de hoje, em que cada vez mais é alimentada esta ideia de que ser feliz está na moda, e que quem não tem (ou não ostenta) a vida perfeita, o namorado perfeito, o trabalho perfeito, a satisfação e preenchimento total e absoluto, simplesmente está desenquadrado de uma realidade onde constantemente se publicita a felicidade total. Exemplo disso é a blogosfera, o facebook e afins, onde se relatam pedaços de vidas perfeitas, positivas, preenchidas, cheias de actividades fantásticas, pessoas fantásticas e momentos fantásticos que se faz questão de expor até ao último detalhe, de modo a causar a inveja e admiração alheias.
Mas a realidade, a vida prática, a sério, pés no chão, mão na consciência, é bem diferente. E por isso dou ainda mais valor a quem não se esconde atrás da máscara e assume os problemas, as tristezas, as frustrações, as coisas com que não se sabe lidar, os medos, o que não lhe corre bem, o que não se consegue mudar.
Para essas pessoas terei sempre toda a paciência, tolerancia, compreensão, tempo do mundo para ouvir, e aconselhar, dentro do que posso e sei, que a minha boa vontade e amizade permitem.
Para as outras lamento mas não sou audiência nem dou tempo de antena. Cansam-me, aborrecem-me e em ultima estancia irritam-me.

11 comentários:

E? disse...

Gostei muito do teu post :)
É algo em que poucas vezes pensamos, mas que é bem pertinente.

Anónimo disse...

É por isso que gostas de mim? ;) olha que este texto é um, apenas um dos muitos claro, motivos pelos quais gosto de ti muito.

Jo disse...

aí vão duas..

Este Blogue precisa de um nome disse...

clap clap clap clap

Miss Kin disse...

É interessante o final do teu texto, eu penso sempre no oposto... O meu blog é sempre o espelho do que sinto e de há uns tempos a esta parte, tem sido um blog meio tristonho, o que para mim já chega a ser chato e acho sempre que já não deve haver pachorra para isso, embora não seja por isso que deixo de escrever o que sinto, porque o escrevo principalmente para mim e para "exorcizar os meus fantasmas", mais ainda assim...

Unknown disse...

É exactamente isso que penso. Parece que nos dias que correm há uma certa vergonha em admitir que não somos perfeitos, que temos problemas e que nem sempre somos felizes. Bj:)

Unknown disse...

Só mais uma coisa, estive a ler vários posts que escreveste e identifico-me muito com a tua forma de ver as coisas. Para além disso escreves muito bem mesmo!! Como já alguém me disse hoje, os melhores blogues nem sempre são os que têm carradas de seguidores, e o teu é prova disso. Parabéns.

Anónimo disse...

Não é mesmo nada fácil admitir. É muito mais fácil arranjarmos desculpas e explicações para o comportamento do(de) outro(s) para assim desvalorizar a nossa mágoa. Para não ter de admitir como nos enganámos, como nos nos deixamos enganar (outra vez).
Mas por mais que custa, apenas quando começamos a admitir e nos deixamos sentir este nosso orgulho ferido, só a partir deste momento começamos devagar-devagarinho a curar o coração partido.
Bonito texto!
Obrigada.
Um beijo.
L

Ritititz disse...

Obriagada a todas (os) pelos comentários!!
Beijinhos mil :)

Anónimo disse...

Concordo perfeitamente com o que disseste. A sociedade está de tal maneira formatada para o sucesso, para a perfeição que quando alguém queixa-se que está infeliz, olham-nos logo de lado. Passa-se isso comigo neste momento, estou a atravessar um momento menos bom na minha vida e quando falo nisso, vejo os olhares que me lançam, tipo - coitada, é tonta, queixar-se da vida que tem.

Rapunzel disse...

Gosto disto!