quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Do morar junto



Quando decidi que queria morar com o meu namorado, decidi exatamente por isso: "queria morar com o meu namorado". Namorávamos há pouco mais de um mês, estávamos loucamente apaixonados e queriamos passar o máximo de tempo juntos. Estar cada um na sua casa e encontrarmo-nos para jantar e dormir cada noite em casa de um ou na casa do outro não fazia sentido. Queriamos estabilidade e acima de tudo, queriamos muito estar um com o outro.
Até podia dizer que foi uma decisão ponderada, que pensei muito, pesei prós e contras e analisei a questão até à exaustão. Mas é mentira. Nem eu nem ele fizemos nada disso. Agimos por impulso e sobretudo por pura paixão. Bastaram algumas conversas para perceber que ambos queriamos o mesmo, e quando acordei uma manhã e ele tinha desocupado um armário para eu levar as minhas coisas "quando me sentisse preparada", (disse ele com aqueles puppy eyes que eu adoro), fez-se o click.
Se eu queria, e ele queria... porque não? Não tinha a ver com uma questão de logística, para facilitar a vida aos dois, porque assim dava mais jeito, para não ter de andar com as coisas para trás e para a frente... nada disso. Foi apenas e só porque queriamos estar juntos e não havia razão para não o fazer. E avançámos.
Já passou 1 ano e meio e quando há discussões, atritos, fases menos boas, quando se dizem coisas que não se querem dizer, já dei por mim a pensar: "era tão mais fácil se não morássemos juntos! Ia cada um para sua casa, pensar na sua vida, respirar um ar diferente, ficar em 4 paredes sozinho e tudo se resolvia de forma mais pacífica!". E já ouvi da boca do meu mais-que-tudo, em momentos em que os puppy eyes se enchem de cólera, que "se calhar não estava preparado para isto!". O que me deixou de rastos, me feriu até à alma e a pensar se teríamos tomado a decisão certa. Mas a verdade é que a dúvida dele é perfeitamente legítima, e também eu, nesses momentos de tensão, quando as coisas não correm como se quer, me questiono se estaria preparada para isto. É normal.
Isto, de morar junto, de dar esse passo na vida, de perceber que a partir de agora não estamos só a dividir o mesmo teto com outra pessoa (como quando dividimos casa com amigas ou colegas). Não. É um projeto a dois. São responsabilidades, deveres e direitos a cumprir e respeitar, sempre a dois. É um compromisso dos dois. E requer esforço e sacrifício... dos dois. E ao contrário do que já me disseram, "quando se gosta realmente não há sacrifícios nem esforços...", o que me provocou uma sonora gargalhada, eu cá sou daquelas que acha exatamente o contrário: é quando se gosta realmente de alguém, tanto ou mais do que da vida que se levava em solteiro, que se fazem os maiores esforços e sacrifícios. Que contrariamos a nossa vontade, singular e independente, em prol da vontade dos dois, que nos esforçamos para agradar ao outro, adaptar ao feitio do outro e para o fazer feliz, porque isso também nos faz feliz.
Já me perguntei várias vezes se estaria preparada para isto. E quanto mais o namoro avança e o tempo passa, mais me questiono se estou preparada. Mas não é sinal de insegurança, de não gostar o suficiente, de não saber o que quero, É exatamente pelo contrário. Por perceber que cada vez mais é a sério, que cada dia que passa, aquilo que nos faz continuar a querer estar um com o outro já não é o impulso nem o tumulto da paixão, mas sim a tranquilidade e segurança que o amor nos traz. A certeza de que temos sempre outra escolha: virar costas e sair, voltar para minha casa e ele ficar sozinho na casa dele, seguirmos cada um o seu caminho. Mas não. Todos os dias escolhemos, (porque é o que nos faz feliz e porque queremos) continuar juntos. E continuar a fazer esforços, sacrifícios e cedências. E discutir de vez em quando e fazer as pazes. E perguntar quantas vezes for preciso "é mesmo isto que eu quero?". E enquanto a resposta for a mesma desde o primeiro dia, então tudo está bem.

2 comentários:

Eli disse...

Adorei ler. Concordo plenamente quando dizes:
"E ao contrário do que já me disseram, "quando se gosta realmente não há sacrifícios nem esforços...", o que me provocou uma sonora gargalhada, eu cá sou daquelas que acha exatamente o contrário: é quando se gosta realmente de alguém, tanto ou mais do que da vida que se levava em solteiro, que se fazem os maiores esforços e sacrifícios. Que contrariamos a nossa vontade, singular e independente, em prol da vontade dos dois, que nos esforçamos para agradar ao outro, adaptar ao feitio do outro e para o fazer feliz, porque isso também nos faz feliz."

Fios de Vida disse...

Adorei o post. Comigo já aconteceu isso. Exactamente da mesma forma. Mas, um dia, ele ao questionar-se deve ter tido como resposta um "não" e deixou de fazer esse esforço que é necessário... E talvez seja melhor assim. Há muitas formas de fazer as coisas, tudo são escolhas.
Espero que sejam felizes por muito e muito tempo :-) Assim vale a pena, apesar de todos os pesares. Beijocas.