quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Crise?


Sempre fui poupadinha. Não forreta nem sovina, mas poupada. Não esbanjava dinheiro por aí além, e claro que cometia umas loucuras de vez em quando, especialmente em alturas de neura, que me dava para bater perna no shopping e vir de lá a arrastar-me com mil sacos em cada mão. Não tinha grandes pesos de consciência quando cometia essas loucuras porque pensava: "Bolas, não gasto dinheiro em cafés porque não bebo, nem em cigarros porque não fumo, não tenho vícios de mais tipo nenhum, nem gastos em coisas fúteis a não ser estes miminhos que estava mesmo a precisar!"
Nos últimos tempos a palavra de ordem tem sido "Contenção". Pois que valores mais altos se levantam, as prioridades são outras, penso muito mais no futuro a médio longo prazo, e há sacrifícios que vale a pena fazer agora, para mais tarde poder estar descansada.
Por tudo isto, o bater perna no shopping tem sido prática rara, as idas ao cabeleireiro quase bianuais, o ritual de arranjar as mãos semanalmente passou a ser quase mensal, e as depilações nem sempre esperam pelo tratamento XPTO da cera e das mãozinhas da Joaquina, lembrando-me que usar Veet de vez em quando não é o fim do mundo.
E não é, de facto, o fim do mundo. Mas custa. E sinto-me um bocadinho em crise. Sinto que pela primeira vez na minha vida olho para o dinheiro e para a estabilidade financeira com olhos de pessoa crescida. E não o faço porque agora estou mais pobre. Faço-o porque sei o quanto custa ganhá-lo, os sacrifícios que se fazem, o quanto é bom não depender de ninguém, não ter de dar satisfações nem pedir o quer que seja. O que não quer dizer que a minha qualidade de vida tenha diminuido, por fazer estes cortes, nem aumentado, por ser eu sozinha a gerir o meu dinheiro. Quer dizer que custa prescindir de coisas que antes me faziam superficialmente feliz, mas ao mesmo tempo percebo que é uma escolha da qual me orgulho imenso, que me preenche realmente porque me mostra a pessoa mais madura, mais consciente, mais responsável e mais segura que sou hoje.
Agora, acho que a verdadeira crise passou por mim antes, em forma existencial e de valores, e não a soube reconhecer.

1 comentário:

CS disse...

Identifico-me em cada palavra tua. Estou assim desde que eu e o meu namorado decidimos viver juntos. Contenção é palavra de ordem. Existem outras prioridades que não passam pelo shopping mais perto de nós ;) Quem sabe daqui a uns tempos...