Do sotaque da minha Avó Celeste, tão típico daquela aldeia que ninguém conhece, mesmo na fronteira com a Espanha. Fazia-me rir quando dizia "avía-te!" (despacha-te), e quando chamava o meu Avô, seu marido, de "Bebe-água", por ele ser tão calmo e fazer tudo devagar, tão ao contrário dela que andava sempre a correr.
Da tal calma do meu Avô, a andar, a falar, a sorrir. De o ouvir falar do seu Sporting com tanto orgulho e de o contrariar dizendo que o Benfica é que era o maior. De o ver sentado, no banco em frente à casa antiga, ao fim da tarde, de bengala ao lado, e lhe dizer adeus da janela daquele 2º andar.
De ouvir o meu outro Avô, o paterno, tocar acordião. De olhos fechados. As melodias mais lindas que já ouvi. Pedia-lhe que me tocasse um repertório inteiro de valsas, tangos e sambinhas para eu dançar no jardim, com as minhas saias rodadas. De jogarmos às damas e me ensinar jogadas infalíveis. Das coca-colas frescas que me dava à revelia da minha Avó, e que nunca deixava acabar lá em casa. De o ver comer pudim, e no fim, levar os lábios ao prato levantando-o para aproveitar o restinho do molho, e dizer: "Ritinha, vê lá se o prato é da Vista Alegre?!", com aquele sorriso malandro e os olhos pequeninos.
Do cheiro da pele da minha Mãe. De falar com ela ao telefone. De passearmos as duas de carro por Seia, a ouvir música. "Só mais uma voltinha!", pedia eu... e lá iamos nós. De lhe mexer no cabelo e arranjar as sobrancelhas. De chorar com ela. Dos cozinhados dela. De a ver sorrir, de a fazer rir. De a imitar à frente das amigas. De tomarmos café, no sítio do costume. Das nossas conversas. De a ver dançar, daquela maneira que eu adorava. De a poder agarrar como os meus irmãos agarravam, a toda a hora, o tempo todo. De olhar para ela, e ela para mim.
Tenho saudades de tudo o que fiz com eles, de tudo o que me deram. Cada bocadinho pequenino deles vive, hoje, em mim. Tenho medo de me ir esquecendo de coisas, de perder memórias preciosas, e de por isso os perder sem dar por isso. Tenho saudades de ser pequenina e daquele Natal em que,ainda era a única criança da família, mas foi a mim que me vestiram de Pai Natal. Estavam todos lá, e lembro-me de tudo tão bem!
Tenho saudades do que nunca mais volta, mas tenho sobretudo daquilo que ficou por fazer.
E tenho pena pelas saudades que não vou chegar a sentir.
Da tal calma do meu Avô, a andar, a falar, a sorrir. De o ouvir falar do seu Sporting com tanto orgulho e de o contrariar dizendo que o Benfica é que era o maior. De o ver sentado, no banco em frente à casa antiga, ao fim da tarde, de bengala ao lado, e lhe dizer adeus da janela daquele 2º andar.
De ouvir o meu outro Avô, o paterno, tocar acordião. De olhos fechados. As melodias mais lindas que já ouvi. Pedia-lhe que me tocasse um repertório inteiro de valsas, tangos e sambinhas para eu dançar no jardim, com as minhas saias rodadas. De jogarmos às damas e me ensinar jogadas infalíveis. Das coca-colas frescas que me dava à revelia da minha Avó, e que nunca deixava acabar lá em casa. De o ver comer pudim, e no fim, levar os lábios ao prato levantando-o para aproveitar o restinho do molho, e dizer: "Ritinha, vê lá se o prato é da Vista Alegre?!", com aquele sorriso malandro e os olhos pequeninos.
Do cheiro da pele da minha Mãe. De falar com ela ao telefone. De passearmos as duas de carro por Seia, a ouvir música. "Só mais uma voltinha!", pedia eu... e lá iamos nós. De lhe mexer no cabelo e arranjar as sobrancelhas. De chorar com ela. Dos cozinhados dela. De a ver sorrir, de a fazer rir. De a imitar à frente das amigas. De tomarmos café, no sítio do costume. Das nossas conversas. De a ver dançar, daquela maneira que eu adorava. De a poder agarrar como os meus irmãos agarravam, a toda a hora, o tempo todo. De olhar para ela, e ela para mim.
Tenho saudades de tudo o que fiz com eles, de tudo o que me deram. Cada bocadinho pequenino deles vive, hoje, em mim. Tenho medo de me ir esquecendo de coisas, de perder memórias preciosas, e de por isso os perder sem dar por isso. Tenho saudades de ser pequenina e daquele Natal em que,ainda era a única criança da família, mas foi a mim que me vestiram de Pai Natal. Estavam todos lá, e lembro-me de tudo tão bem!
Tenho saudades do que nunca mais volta, mas tenho sobretudo daquilo que ficou por fazer.
E tenho pena pelas saudades que não vou chegar a sentir.
1 comentário:
Passei por aqui por um simples acaso. Sou navegador desde que existe Net nas nossas casas e deambulando por blogues desconhecidos vim dar a este fantástico texto cheio de beleza, ternura e saudade. Eu também tenho muitas saudades dos meus tempos de menino, das minhas brincadeiras, dos meus desatinos, da minha escola primária... quem não tem saudades? Somos seres humanos, simplesmente. Obrigado por me ter feito recordar um pouco os velhos tempos...
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