sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Da vida a dois #2


Enquanto ele dormia, olhava para o seu ar sereno e tranquilo, o sorriso que nem assim desarma, a paz que sei ser igual à minha quando também estou a dormir. E de repente percebi que nunca procurei nele o Homem perfeito, "O Tal", com aquelas características que antes, em conversas de amigas, enumerávamos e dizíamos serem essenciais no nosso futuro mais que tudo. Na verdade, não procurei nada nele, absolutamente nada. Tal como não estava à procura em mais ninguém. Estava sozinha há algum tempo, tempo esse que me estava a saber bem, um tempo meu, só para mim, onde não tinha ainda sentido falta de ter alguém na minha vida, tão pouco espaço para deixar esse alguém entrar. Tenho muitos medos daqueles grandes, que bloqueiam, que congelam, mas o medo de ficar sozinha, de não encontrar alguém que gostasse realmente de mim, medo de ser a solteira do grupo, de ver os outros emparelhados e eu aparecer sozinha, de estar sozinha na minha casa por tempo indeterminado, de não ter a quem dar prenda no Natal, aniversários e dia dos Namorados... nunca foi sequer preocupação para mim. E acho que isso sempre contou muito a meu favor, porque nunca me fez ser ansiosa nos relacionamentos, no sentido de pensar "se isto acaba amanhã, não sei como vai ser!". Dei as minhas cabeçadas, fiz as minhas más (péssimas!) escolhas, mas sempre foi tudo de forma muito consciente, e mesmo no pior dos cenários, sempre me movi muito mais por capricho e teimosia do que por carência.
Foi neste estado de alma que o encontrei e ele a mim. Puro acaso, não era suposto ter sido assim. Não imaginava sequer que pudesse vir a ser assim. Mas foi... E o facto de nunca ter procurado, imposto, querido saber demais, entrar demais, estar presente demais, foi aquilo que o aproximou demais de mim. E fez com que me fosse dando cada vez mais de si, revelando-se, conquistando terreno no meu coração e na minha admiração. Hoje olho para ele com Amor, mas com muita admiração e orgulho. Pelo Homem que é, pelas qualidades que tem, pelos carácter que o define, pelos valores com que se rege, pela educação extrema, pelo coração enorme, pela dedicação em tudo o que faz, pela transparência, pela sensibilidade. Por tudo o que eu não procurava e nele encontrei, sem esperar. E sobretudo e acima de tudo, pelo que ele fez em mim: mudou o meu mundo, devolveu-me a alegria, a segurança, o acreditar em mim mesma, não duvidar de mim, das minhas capacidades e do meu bom senso, abalou todas as minhas estruturas e fez-me ver a vida, as pessoas, as amizades, a família, as obrigações, o futuro, os sacrifícios com outros olhos. Fez de mim uma Mulher melhor, mais preenchida, mais feliz, mais equilibrada, mais assertiva, mais carinhosa, mais atenta, mais segura. E essa é a grande diferença entre estar com alguém de quem gostamos e que achamos gostar de nós, mas que não muda nada na nossa vida, não nos abala, não nos faz crescer, evoluir, avançar, não nos empurra, não nos dá vontade de fazer mais, querer mais, e sobretudo dar mais de nós, dia após dia, e que nos faz ter a clara noção de que existia um "Eu A.D" (antes dele) e um "Eu D.D" (depois dele). Essa é a grande diferença entre as relações que têm futuro e aquelas que, eventualmente, acabarão por não dar em nada, mais uma experiência, uma fase da vida em que aprendemos (ou não) com aquilo que vivemos.
É estar consciente de que o futuro é incerto, mas que o presente é sólido e nada nos vai faltar ao lado dessa pessoa. Que ela quer o mesmo que nós, estamos em sintonia, no mesmo patamar da vida, não temos de esperar um pelo outro, não temos de fazer com que ele mude, não temos de o moldar, não temos de ensinar nada, não temos de lutar para que as coisas se encaminhem como nós idealizámos, sonhámos, queríamos. Simplesmente as coisas encaixam, as vontades, os desejos, os sonhos, os objectivos. E sim, ensinamos e aprendemos muito um com o outro, lutamos diariamente de forma natural para que a relação não arrefeça, e acabamos por mudar, sem dar por isso, para melhor, porque é algo natural e instintivo, porque gostamos o suficiente um do outro para caminharmos sempre no mesmo sentido, de olhos fechados, sem GPS. Sem ter que me contentar com o facto de ele só poder dar até certo ponto, só avançar até certo ponto, só querer e gostar até certo ponto, só estar preparado até certo ponto.
Do Amor não sabia grande coisa, mas sabia o suficiente para perceber que quando é a sério é a 100%,. Para os Homens e para as Mulheres, não há distinção. É dar tudo, avançar em tudo, querer tudo, estar preparado para tudo. Sem reticências, sem ponto e vírgula, sem argumentação, assim, inexorável.

4 comentários:

SuperSónica disse...

Adorei estes lindos textos.

Kikas disse...

adorei :) acho que - por mais que sintas que tenha ficado muita coisa por dizer (que sentimos sempre), por não dar para explicar um sentimento tão grande - te exprimiste bastante bem e qualquer pessoa que sinta o mesmo, sabe exactamente o que queres dizer.
o verdadeiro amor, na minha opinião, nasce assim mesmo.. quando menos se espera! :D

Ritititz disse...

SuperSónica: muito obrigada! É a paixão e o amor que inspiram! :)

Kikinhas: Não é fácil resumir tudo o que se sente em pequenos textos, falta sempre qualquer coisa, nunca está tudo... mas o que importa é a mensagem principal, e essa tu percebeste bem, aliás, como sempre! Beijinhos!!

Raquel C. Macias disse...

Não se procura, encontra-se...
Não se escolhe, acontece... Suave, inesperadamente, sem aviso nem licença!
E chega sempre quando não esperamos ou achamos que não queremos porque estamos tão bem connosco.
Não vale a pena tentar explicar pois só quem sente o mesmo compreende. E sabe bem, tão bem… É um sentimento que nos preenche e completa sem nos anular…
E fico tão feliz por ele te ter encontrado e tu a ele!

Beijo no coração*