segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ficar sem chão (parte II)

É como quem nos tira o tapete e damos por nós a cair em câmera lenta, como desenhos animados, a ver o mundo girar à nossa volta, até batermos no fundo, sem dó nem piedade.
Dó e piedade também são sentimentos muito comuns quando se fica sem chão. É tão fácil sentirmos pena de nós próprios, e acharmos que somos vítimas de todo um complô do destino, que não nos pode ver finalmente com a vida encaminhada, sem grandes tumultos e felizes com aquilo que temos.
Não, de repente vem uma espécie de tsunami que arrasa tudo à nossa volta e lá nos deixamos ir, levados por aquela onda gigantesca que nos arrasta não sabemos bem para onde, e na verdade tudo o que podemos fazer é não oferecer grande resistência e deixar-nos levar... até certo ponto.
Fiquei sem chão por estes dias, e foi uma grandessíssima merda. Foi mesmo. Só eu sei a merda que foi. Eu, e quem me aturou. Felizmente pude dividir "o mal pelas aldeias", e em turnos rotativos tive quem literalmente cuidasse de mim. Porque quando se fica sem chão pensa-se que se fica sem nada. E precisamos que nos façam quase tudo. Como naquela cena do filme do Sexo e a Cidade em que o Big decide que afinal não vai casar com a Carrie, e ela vai arrastada e anestesiada para o México com as amigas e fica em modo vegetal durante um par de dias, sabem...? Foi mais ou menos isso que eu senti (não a parte do ter sido abandonada no altar, calma..).
Não precisei que me dessem sopa à boca, nem fiz curas de sono, mas a parte do "cuidar", do ter quem olhasse por mim, quem me arrastasse de férias para zona neutra, quem me ligasse logo pela manhã para garantir que eu saía da cama, quem me ligasse à hora de almoço para garanir que estava a comer, quem me ocupasse os finais de tarde para garantir que não estava sozinha, quem me ligasse até às 3h da madrugada, para garantir que ficava exausta de tanto falar e ia mesmo dormir, quem ficasse ao meu lado, em silêncio, enquanto eu chorava para garantir que não chorava sozinha. Tudo isso eu tive. E foi tudo isso que me fez perceber que ficar sem chão é uma grandessíssima merda, sim. Mas que ficar sem chão não é o mesmo que ficar sem nada. Na verdade fiquei com muito mais do que tinha. Mais certeza de que tenho grandes amigas, mais certeza de que sou mais forte do que pensava, mais focada em mim e nas minhas prioridades, mais consciente daquilo que eu tenho de mudar por mim, mais EU (sempre com a ajuda delas).
Isto para dizer que, quando se fica sem chão, fica-se sem muita coisa. Mas não é o fim do mundo. Ganha-se muito, aprende-se muito e tiram-se lições para a vida. E constroi-se um novo chão, devagar, um dia de cada vez, como um puzzle. As peças ocupam o seu lugar, encaixam, e formam um todo, que, depois da tempestade passar, faz de ti uma pessoa melhor.
Ficar sem chão é uma grandessíssima merda, mas se acreditarmos que foi preciso deitar tudo abaixo para construir alicerces fortes, paredes e um telhado, se no fim, o propósito for conseguir um Lar, tudo terá valido a pena.
Obrigada a todas (vocês sabem quem são) que me ajudaram a recuperar as peças, uma a uma, do meu puzzle, e a ter forças para reconstruir o meu novo chão! :)