É visto como um número místico e mágico, presente na filosofia, literatura e astrologia como símbolo da transformação e de passagem do conhecido para o desconhecido. Mito ou não, a verdade é que muitas são as coincidências em torno deste número: São 7 as notas musicais, foram 7 as pragas do Egito, são 7 os Arcanjos, são 7 as obras de misericórdia. 7 são os níveis de densidade da matéria que nos envolve. O arco-íris tem 7 cores. As nossas células mudam de 7 em 7 anos. Temos 7 glândulas endócrinas. São 7 os nossos chacras, e até os dias da semana que marcam as nossas rotinas são 7. Muitas são as ciências (mais ou menos exatas) que defendem que a cada 7 anos vivemos o final de um ciclo e o início de outro. Ciências e mitos à parte, dei por mim a fazer um balanço e a verdade é que a minha vida foi, de facto, pautada por ciclos de aproximadamente 7 anos, onde consigo identificar claramente os momentos que marcaram e mudaram radicalmente o meu percurso.
Até aos 7 anos vivi uma infância incrivelmente feliz, no seio de uma família coesa, filha única, com 4 avós. Aos 7 anos e meio nasceu o meu irmão e 2 anos depois a minha irmã. Passados 3 anos faleceu a minha avó materna e 28 dias depois o meu avô materno. Aos 14 os meus pais divorciaram-se, e entre os 14 e os 23 fui o braço direito da minha mãe, houve um distanciamento marcante da minha parte em relação ao meu pai, acompanhei o crescimento dos meus irmãos quase como se fossem filhos, terminei o liceu e vim morar para Lisboa, mas na verdade nunca cortei o cordão umbilical com a minha casa, nem aceitei que a minha vida teria de mudar com a vinda para a faculdade. Aos 20 o meu avô paterno, uma enorme referência para mim, faleceu subitamente. E aos 23 perdi a minha Mãe.
Faz hoje 7 anos. No dia 7 de SETEmbro de 2007, às 19:03h. Foi nesse ano, pouco tempo depois, que decidi dar vida a este blogue e começar a escrever para aliviar a dor, a mágoa, a tristeza, o vazio, e a saudade, para partilhar o que me ia na alma. Sete anos depois a dor, a mágoa, a tristeza, o vazio e a saudade são exatamente os mesmos. O tempo não cura tudo, e quem diz isto por não saber o que dizer em certas circunstâncias, é melhor não dizer nada. O tempo só aumenta a saudade, e serve de placebo para a dor. Desde 2007 passei anos de profunda tristeza e de me sentir completamente perdida. De não saber quem era, o que queria fazer da minha vida, como ia ter forças para construir o quer que fosse sem a única pessoa que toda a vida sempre esteve lá para mim. Como saber que era capaz se ela não estava cá para mo dizer? Como viver uma alegria, como sorrir genuinamente, se a dor era tão grande? Como distinguir o certo do errado se sempre tive o olhar dela para me guiar? Depois percebi que mesmo não querendo, mesmo não sabendo como fazer isso para mim, teria de o saber fazer para os meus irmãos, que precisavam desse olhar, desse amparo, dessas palavras de confiança e coragem. E, por eles, mais do que por mim, comecei aos poucos a tentar construir um caminho, fosse qual fosse.
Três anos depois conheci o João, e foi ele quem me fez, realmente, dar um rumo à minha vida. Foi por ele, mais uma vez mais por ele do que por mim, que voltei a ganhar coragem, brio e ambição. Delinear objetivos e obrigar-me a cumpri-los. Foi graças a ele que quando quase voltei a querer desistir, ganhei forças extra para continuar a lutar e não deixar de acreditar que os meus sonhos se podiam realizar. Um ano depois estava a trabalhar, a fazer aquilo com que sempre sonhei, a aprender, a evoluir, a ganhar confiança, conhecimento, a perder os medos, a baixar a guarda, a sair da zona de conforto, a evoluir enquanto mulher e profissional. Entrei como estagiária, passei a jornalista junior, depois senior, e Coordenadora de redação. Consegui superar-me. Deixei de sentir necessidade de provar aos outros que conseguia e a viver com a certeza de que o importante era eu saber que conseguia. Aproximei-me do meu pai. Desculpei-o e desculpei-me.
Aos 30 anos, após 4 de namoro, de morarmos juntos desde praticamente o início, de termos crescido juntos, viajado juntos, revelado o melhor e pior um do outro, de sentirmos dúvidas e receios, de chegarmos a certezas, fui pedida em casamento. Casei-me. A minha Mãe esteve lá. Não só no sentido espiritual, mas em homenagem e no olhar de cada pessoa que a conheceu, e também de quem nunca a viu mas partilhou daquele momento mágico como se tivesse conhecido. Esteve na flor do meu bouquet, esteve quando me vi ao espelho e sorri, quando o meu irmão me sussurou ao ouvido "Estás tão parecida com a Mãe...", quando chorei de profunda tristeza por não a ter a compor-me o vestido, a enxugar as lágrimas de alegria, de braço dado com o meu pai, o amor da sua vida, que nesse dia certamente sentiu tanto ou mais a falta dela quanto eu. Esteve (e está) na forma mais simbólica, no meu anelar esquerdo, na aliança de casamento que era dela, que é exatamente do meu tamanho, cujo nome gravado por dentro permanece igual, porque até o nome do meu pai e do meu marido é o mesmo, apenas alterei a data. Esteve e está todos os dias da minha vida, quando acordo e adormeço e olho para a fotografia dela na minha mesinha de cabeceira. Está em mim, na mulher que hoje sou, em que me tornei. Está nos meus irmãos, no orgulho desmedido que sinto ao ver os seres incríveis que eles são. Hoje passam 7 anos desde o dia em que lhe toquei no rosto pela última vez e lhe segredei ao ouvido: "Obrigada por tudo, és a melhor Mãe do mundo." E hoje sei que este ano faz parte daqueles de transformação e mudança. Sinto claramente que foi um ano de terminar um ciclo e iniciar outro.
Não sei se este blogue fará parte desta nova etapa, se poderá, também ele sofrer uma mudança, mas sei o quanto devo a este espaço, a esta forma de não me esquecer de quem eu sou, do que gosto realmente na vida, de projetar para o universo os meus desejos, e ter a imensa sorte de que, a seu tempo, eles acabem por se materializar.
Hoje é um dia triste mas eu estou feliz e sei que ela também está por mim.