Ouvi dizer algumas vezes no meio que, no jornalismo, quanto mais se "sobe" menos se escreve. O que, honestamente, me assustava um bocadinho. Porque se, por um lado, obviamente ambicionava evoluir na carreira, por outro não me imaginava a fazer outra coisa se não escrever.
A escrita é a minha ferramenta base, a paixão, aquilo que me fez querer seguir inicialmente por este caminho, mesmo sem saber que caminho seria, ou se seria capaz de o percorrer. Sabia que queria e gostava tanto de escrever. Só isso.
Mas afinal aquilo que se diz é mesmo verdade. E é uma faca de dois gumes. Se, por um lado, é um ótimo sinal, o melhor de todos - de que estou realmente a evoluir, tenho muitas mais responsabilidades e viram em mim a capacidade para assumi-las, que o meu cargo mudou, estou a aprender cada vez mais sobre áreas tão diferentes, a alargar competências dentro de uma empresa e já não sou responsável apenas por mim mas por uma equipa, que tenho de saber gerir, motivar, controlar e aprender a delegar.... - por outro cada vez mais me distancio disto. Disto que estou a fazer agora. Sentar-me à frente de uma página em branco e, sem olhar para o teclado, simplesmente ver as letras aparecer, as frases a formarem sentido, construir um texto que traduza o quer que seja que me apetece partilhar. Cada vez se torna mais difícil ter tempo e disponibilidade para tal, cada vez me embrenho mais no mundo prático e saio da minha bolha, da qual sempre tanto gostei, para me colocar à prova em constantes desafios.
E é aí que surgem os medos, o "será que sou capaz?", ou o "mas não era isto que eu pensava/queria/mais gosto de fazer!"... aqueles boicotes que tão bem já conheço quando começo a ficar com medo de falhar.
Hoje consegui escrever sobre esta falta imensa de partilhar, à minha maneira, o que me apetece. Que foi a paixão que me levou onde estou hoje, e por mais que as funções mudem, que as tarefas se alterem, que as responsabilidades, os cargos, o reconhecimento, aquilo que nos é exigido, aquilo que acabamos por fazer metodicamente, porque sim, porque faz parte, por mais que nos distanciemos (ainda que num sentido sempre positivo e ascendente) daquilo que julgávamos ser o caminho inicial, é sempre bom não nos esquecermos da paixão. Daquilo que motiva, preenche, faz feliz, dá prazer, completa, aquilo que está no ADN de cada um. É isso que nos faz voltar ao centro, a colocar tudo em perspetiva, o bom e o menos bom. E nos faz querer avançar, sem ressentimentos, sem acharmos que estamos a perder ou deixar algo para trás.