Há quem acredite que todos nascemos com o destino traçado, que não há coincidências, e que o que damos é o que recebemos de volta.
Há quem defenda o contrário, que o destino somos nós que o traçamos, nas escolhas que fazemos, e que nem sempre cada um tem aquilo que merece porque a justiça, pelo menos enquanto cá andamos, é feita pelos homens de carne e osso (e defeitos), e tem muito pouco de divina.
Eu faço parte do primeiro grupo.
Porque preservo uma ingenuidade romântica dentro de mim, que não me importa se certa ou errada, mas me aconchega.
Porque para aquilo que não encontro explicação reservo-mo ao direito de pensar: "Tinha de ser assim".
Porque para lidar com a frustração, com a perda, com a rejeição e a derrota conforto-me com o : "Não era para ser".
Porque o não saber as respostas, o não saber como lidar com algo, aquilo que me transcende, logo a mim que analiso tudo até à exaustão, com a mesma intensidade com que vivo de impulso, sem pensar por um segundo, é saltar para um abismo sem começo nem fim.
Porque tenho tanto de consciente e racional, de ponderada e assertiva, como uma ânsia sofrega de avançar no desconhecido, improvavel e menos recomendável.
Porque vivo no fio da navalha, sempre, no limite da escolha entre aquilo que eu sinto que me está destinado e aquilo que eu sei que sou eu que controlo, que só a mim me cabe escolher e manter-me fiel a essa escolha.
Porque em última estância sei que quem traça o meu destino a limpo sou eu.
Mas também sei que por baixo houve um rascunho, um tracejado, um esboço feito por mão que não a minha e que eu, com mais ou menos rigor, acabo por re-desenhar os contornos dessa mão.