quinta-feira, 28 de maio de 2009

Para ti, Kika

-“Esta é que é a tua filha? É tão parecida contigo, Paula!”
-“Eu olho para a tua e vejo-te a ti, com esta idade, Gina!”
Lembro-me tão bem desta conversa… Nesse dia, em que fomos apresentadas, não falámos uma com a outra. Ficou cada uma atrás da saia da sua mãe, a olhar em volta, naquela que iria ser a nossa nova escola. Foi à porta do pavilhão B, no ciclo, quando tínhamos visto pela primeira vez que íamos ser da mesma turma, o 5ºE.
Na altura achei-te graça porque eras pequena como eu, usavas uma fita na cabeça a prender a franja como eu, e estavas tão “às aranhas” quanto eu.
Eu vinha da escola de Santiago, tu da de S.Romão. E talvez por isso, por ambas nos sentirmos intrusas naquela turma onde grande parte já se conhecia, acabamos por nos aproximar mais. Isso e o facto de ambas aparecermos no primeiro dia com uma mochila às costas que tinha o dobro do nosso tamanho, saia de pregas e collants. Para além disso ficámos as duas presas, literalmente entaladas, na porta do pavilhão C, porque resolvemos correr disparadas como se o mundo fosse acabar naquele preciso instante, mal ouvimos soar o primeiro toque. Ficámos debaixo daquele miúdo gordo, enorme, que teimava em não sair de cima das nossas pequenas pernas, pequenos braços, pequenas cabeças de fitas que entretanto voaram com o impacto.
Seguiram-se aqueles que eu ainda agora considero os melhores anos da minha vida. E tu sempre estiveste presente. Ficávamos juntas nas aulas de matemática do Catarino, e nas de música com o "Pestana Branca". Éramos bem comportadas, mas morríamos de vontade de fazer uma pequena rebeldia de vez em quando. Éramos as mais pequeninas, também as que gostavam mais de dançar. As nossas coreografias de festa de fim de período faziam um sucesso enorme, e nada nos dava mais gozo do que ir aos aniversários umas das outras. Com singelos 10 dias de diferença, ambas Sagitárias puras, festejámos várias vezes juntas, e juntas éramos as únicas que ainda não tínhamos o período que nos impedisse de fazer as aulas de natação. E nunca nos importámos com isso… Até que apareceu...com um mês de diferença, e foi uma grande festa!
A minha mudança de turma no secundário em nada mudou a amizade que nos unia. Os intervalos continuavam a ser passados juntas, os fins de tarde sem aulas também, as idas ao cinema e ao "Mónaco". As férias em Aguadulce, uma semana para sempre recordar… os teus avós que me trataram como neta, os pistolões da D.Palmira a apimentar a coisa, e o Javier, coitadinho, a lamber o gelado com ar sofredor.
A viagem de finalistas…foi…a viagem de finalistas. Boa demais para descrever ou resumir. E mais uma vez, juntas, no mesmo quarto, a partilhar roupinhas que só nos serviam a nós duas, tamanhos XXS, e a descobrir a Vodka Morango, numa sapataria, em plena luz do dia.
A entrada para a faculdade, que já foi há tanto tempo, não parece tanto assim pelo facto de sempre continuarmos presentes na vida uma da outra. Tu em Coimbra, eu em Lisboa. Tenho noção de que ambas construímos caminhos paralelos, que pouco se cruzaram e do qual não participamos activamente. Mas sinceramente, acho que não houve nada de realmente importante que não tivesse partilhado contigo na hora, apesar da distância.
No dia mais triste da minha vida estiveste o tempo todo ao meu lado.
Seguraste na minha mão, abraçaste-me, deste-me o ombro, o colo, o coração.
Nos tempos que se seguiram deste-me espaço com amizade incondicional. Nunca me julgaste pelas escolhas más, menos boas ou totalmente despropositadas à vista dos outros. Apoiaste-me em tudo, cegamente, mesmo naquilo que tanto eu como tu sabíamos ser errado.
Não nos telefonamos todos os dias. Não mandamos mil mensagens. Não sei de tudo com todos os pormenores da tua vida. Não conheço algumas das tuas amigas tão importantes quanto eu. Não te procuro constantemente para desabafar, chorar ou rir.
Mas guardo-te no meu coração, fazes parte de mim, de quem hoje sou, da menina que um dia fui. Sempre fomos assim uma para a outra, sem esforços, sem discussões, sem atritos, sem complicações.
Sempre estivemos lá uma para a outra, sem pestanejar, para o bom e para o menos bom. Sempre disse que de todas as minhas amigas eras aquela que achava mais parecida comigo. Sempre tive muito orgulho e admiração por seres tão boa aluna, tão empenhada, tão determinada, por conseguires todos os teus objectivos com tanto mérito. Tão boa profissional, namorada exemplar, Mulher linda por dentro e por fora, tão bom coração, tão minha Amiga.
E agora vais casar…
De véu e grinalda. De vestido de Princesa que ainda não vi, mas que toda a vida imaginámos entre conversas e risinhos, tentando adivinhar quem seria o nosso Príncipe Encantado. E tu encontraste o teu. E ele encontrou-te a ti. E são felizes… e isso faz-me muito feliz.
É um orgulho imenso partilhar este momento da tua vida contigo, Kika.
Tudo o que eu desejo para ti, é o mesmo que desejo para mim, do fundo do coração.
Obrigada por existires na minha vida, tão simples e discreta. Tão forte e presente. Tão minha Amiga.
Um beijo enorme,
Rita

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Tenho medo

Que chorem às escondidas.
Que se sintam sós e desamparados.
De não estar à altura.
De não estar presente o suficiente.
De não conseguir compensá-los por tudo o que lhes foi retirado.
Que não confiem em mim.
Que não me procurem para chorar.
Que se esqueçam de como tudo era tão perfeito dentro da nossa imperfeição.
Que guardem mágoa daquilo que não conseguem mudar.
De não conseguir controlar o que precisa de controlo.
De não compreender o que lhes vai na alma.
Que o tempo passe depressa demais e eu não estive lá tempo suficiente.
Que se percam pelo caminho.
Que façam más escolhas.
Que se sintam esquecidos.

Tenho tanto medo que não sejam felizes...



terça-feira, 19 de maio de 2009

Emplastro: volta, estás perdoado

Estou neste exacto momento a ver o programa "Nós por cá", que por si só consegue mexer com os meus nervos.
Mas neste exacto momento, o "Nós por cá" e a querida Conceição Lino (por quem nutro um certo odiozinho de estimação), está a ser emitido em directo de Évora.
Ora, o que sucede é que temos a dita cuja "apresentadora" a berrar em plenos pulmões, num esforço para que os microfones captem aquilo que está a dizer. Porquê? Porque tem atrás dela uma manada...sim, que aquilo não é gente, é MANADA mesmo, a berrar ainda mais do que ela, a falar ao telemovel e a dizer adeus para as câmaras, a empurrar-se para caberem no plano, para que lá em casa os vejam. Os vejam e percebam que neste momento estão atrás da Conceição Lino, que eles não sabem quem é, no programa da Sic "Nós por Cá", que eles também nunca viram, porque se estivessem em casa àquela hora estavam a ver o Fernando Mendes ou os Morangos com Açúcar. E a manada berra, e empurra-se, conversam entre si a menos de 2m da secretária onde a Conceição, esganiçada, tenta fazer uma ou duas perguntas ao convidado, que também ele berra.
Não entendo esta fixação do povão tuga pelas câmaras de televisão. Falar e dizer o quer que seja com sentido...tá quieto! Foge tudo! Mas se for para aparecer lá atrás, sem fazer a mínima ideia do quer que seja que se está a passar à sua volta...lá vem a manada, de telemovel na orelha, e dizer adeus como se não houvesse amanhã!
Que pouca vergonha...

sábado, 16 de maio de 2009

Hãn?

Luas... Tenho muitas.
Mudanças de humor repentinas e cortantes que até a mim me deixam de cara à banda. A mim e aos outros; Presenteio quem me rodeia sempre com uma (des)agradável surpresa. Mudo o estado de alegria para a irritação como quem estala os dedos.
Daí, de há uns tempos para cá ter feito um género de workshop: "estar Calada". E tenho estado. Calada. A conviver comigo, com as minhas paranóias, a tentar perceber o que está mal, o que tenho de mudar, o que quero, o que não quero. Quem vale a pena, as verdades inegáveis e as pessoas dispensáveis. Quem amo e não quero perder. O 8º mistério do Universo, o porquê do Mr. Spock ter as orelhas em bico e porque é que mexer no umbigo me faz tanta confusão. E quem é afinal a D* e o que quer. Porque é que é tão exigente com ela, quem a fez assim e porque é que há pessoas que cheiram a cera dos ouvidos...
Sou assim, hoje, em quarto minguante. Para a semana há mais.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Espírito de contradição

Eu estou de sabrinas.
Eu estou de vestido.
Eu tenho um casaquinho de malha coral.
Eu tenho uma flor branca no cabelo.
Eu recebi elogios de que me fica tão bem o estilo "Primaveril".
Questão: Onde é que está o sol?

WTF???

Digam lá se não é um rico miminho chegar ao burgo e encontrar logo à entrada um pequeno aviso onde se pede aos funcionários da empresa X para que lavem as mãos.
Sim, leram bem. "Lavem a mãos".
Mas não nos ficamos por aqui. O "documento" não só nos chama indirectamente a todos de porquinhos, como ainda explica como se deve lavar as mãos.
Sim, explica. E passo a citar: "Abrir a torneira com a ajuda do papel. Lavar as mãos com o sabonete anti-séptico disponível no w.c. Fechar a torneira novamente com o uso do papel. Antes e depois do dia de trabalho, debaixo de água, durante 30 a 60 segundos."
Palavrinha de honra.
E há tanto comentário que eu poderia tecer sobre isto, que confesso que me sinto bloqueada.
Vou só ali lavar as mãos para ver se me inspiro e já venho.


P.S- Não, não trabalho num restaurante, nem num refeitório, nem num hospital, nem num infantário, nem na construção civil..

sábado, 9 de maio de 2009

Quality time

Não sei se já repararam, mas hoje está de chuva aqui para os lados de Lisboa.
Digo que não sei se já repararam porque eu, apesar do dilúvio que se estava a dar lá fora, quase que não dava por ele.
Porque estou sozinha em casa, dedicada a tarefas domésticas para as quais não tenho tempo nem vontade durante a semana. Porque hoje não tenho horários, obrigações ou programas. Porque estou "on my own", no meu palácio, que estava a precisar de ser mimado. Mas sobretudo porque gosto muito da minha própria companhia.
Que é coisa que me parece ser cada vez mais difícil neste mundo: saber estar sozinho.
Comer sozinho, dormir sozinho, ir à praia sozinho, chegar a casa sozinho, ao cinema, ter tempo livre e não saber muito bem o que fazer com ele, porque simplesmente o facto de estar sozinho tira qualquer vontade ou iniciativa para fazer o quer que seja.
A mim isso faz-me uma certa confusão. Não me considero "bicho do mato", mas sempre fui muito independente no que diz respeito ao meu espaço, às minhas vontades, e sobretudo sempre lidei muito bem com o silêncio e aquilo que para muitos já é considerada "solidão".
Não me assusta chegar a casa e não estar ninguém. Não me incomoda fazer as refeições sozinha ou cozinhar só para mim, não me custa nada ir ao cinema sem companhia, não me deixa angustiada passar dias seguidos em casa sem ter ninguém para falar. Óbvio que falo de situações pontuais, do dia a dia. Não é um modo de vida, não é assim que levo os meus dias, nem é isso que quero para mim. Felizmente estou rodeada de pessoas maravilhosas com as quais partilho o meu tempo e espaço e das quais sinto imensa falta quando não estão.
O que eu quero dizer é que tenho a forte sensação de que há muita gente que não gosta, nem sabe estar sozinha, porque tem medo daquilo que pode vir a descobrir sobre si mesma. Porque é quando nos temos apenas a Nós mesmos como companhia, que pensamos a fundo nos nossos problemas, nas escolhas que fazemos, naquilo que deixamos por fazer, naqueles que nesse exacto momento não estão ao nosso lado e o porquê de não estarem, nas obrigações, nas responsabilidades, nas tristezas, nos medos, nos receios... tudo o que há de mais íntimo e inconsciente sobre Nós próprios acaba por vir ao de cima quando não temos alguém à nossa frente ou ao nosso lado que nos desvie a atenção.
Acho também que é por isso que hoje em dia os casais decidem morar juntos tão depressa, e sentem tanta necessidade de perceber desde muito cedo como é partilhar o espaço e ter o outro como companhia. Para além da paixão, do amor, da vontade pura de estar com aquela pessoa o máximo tempo possível, existe uma necessidade de perceber desde logo como é quando tivermos de partilhar o mesmo espaço todos os dias, over and over again. Até porque se a coisa correr mal, que se descubra o quanto antes! Vai cada um para o seu lado e vamos lá ver se da próxima corre melhor, porque também pesa muito ter alguém com quem dividir a renda no fim do mês, ter quem aqueça os pezinhos nos meses frios e acompanhe nas idas à praia quando o calor apertar.
Se estou a exagerar? Talvez sim. Mas é o que eu vejo à minha volta, perdoem-me.
E agora vou só ali fazer um bolinho que me está mesmo apetecer, para beber com chá quentinho mais logo, enquanto vejo um belo filme no conforto do meu lar... all by myself!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Dia da Mãe

Não, não me enganei na data.
Nem tão pouco vou falar do domingo passado.
Mas posso falar de todos os outros domingos que já passaram entretanto, nestes 20 meses.
E posso falar de tudo o que já me aconteceu entre os dias que separaram cada domingo, que não pude partilhar. De como é mau não A ter para dividir as tristezas, mas como é frustrante não tê-La a assistir às alegrias.
De como hoje, quando cheguei a casa mais morta do que viva, cansada, enjoada, sem fome, sem sede, sem vontade de fazer absolutamente nada de tão cansada, chorei por estar feliz e não poder pegar no telefone, ligar-lhe, e contar como foi o meu dia.
Contar como hoje dei mais um pequenino passo no caminho certo, em direcção ao objectivo certo, que durante tanto tempo esteve enevoado, e que tantas vezes pus em causa. Chorei por não lhe poder dizer: "Obrigada por teres acreditado em mim quando mais ninguém, nem eu mesma, o fez".
Porque há dias em que não queremos ouvir que Ela está no céu, que olha por nós, que é um Anjo, e que está sempre connosco. Há dias em que essas são palavras proibidas porque simplesmente a queremos aqui. AQUI.
Esses é que são os Dias da Mãe.
São todos...todos sem excepção.