Hoje uma querida amiga que está longe, muito longe, contou-me que recebeu em casa um enorme ramo de flores com um cartãozinho. Ela não estava à espera, não era nenhuma data em especial, sabia perfeitamente quem as tinha enviado mesmo antes de ler o cartão, e apesar de não ter sido a primeira vez que isto lhe acontecia, estava radiante!
Eu radiante fiquei por ela. Não consigo acreditar naquelas mulheres que dizem não gostar de receber flores. Não acho possivel, pronto! Que não gostem de todas as flores, de rosas amarelas por exemplo, (conheço um caso em particular de alergia mortal a rosas amarelas!), ainda acredito, já que eu tambem não morro de amores por cravos (nem mesmo no 25 de Abril, peço muita desculpa). Mas dizerem peremptoriamente que não gostam de receber flores, vá.. é coisa que não me cheira bem, e desconfio sempre que se calhar pode-se dar o caso de se tratar de um piquinho de nada de ressabiamento por nunca terem recebido um belo ramo de flores daquele alguém especial. Ou até mesmo uma simples flor do campo, colhida na beira da estrada (na minha terra há flores à beira das estradas, não estou propriamente a falar da CREL ou da 2ª circular), e oferecida só porque sim, porque apeteceu, porque é romântico, porque é um gesto querido, porque é impossível não roubar um sorriso ao mais gélido coração não amante de flores, quando é alguém especial que o tem para connosco.
Eu adoro receber flores. E lembro-me sempre de quem me ofereceu flores. As últimas foram-me oferecidas no aniversário, por duas grandes amigas minhas, num grande e maravilhoso ramo de estrelícias, que eu adoro, e que me deixou sem palavras! Meses antes a Fifs surpreendeu-me com uma rosa quando veio aqui ter a casa, so porque sim, e disse com o seu ar mais despachado: "Toma! Só para não dizeres que ninguém te dá flores!" (aposto que já nem se lembra disto!). E depois há as belas rosas dos Monhés, oferecidas em tantas noites de Bairro Alto e afins, que ficam no carro a murchar enquanto vamos para a disco, mas que faço sempre questão de trazer para casa, só para no dia seguinte, quando acordar, me lembrar desse episodio da noite, que é sempre um dos pontos altos, de certeza.
E também adoro oferecer flores. Adoro escolher o tipo de flor, o tipo de ramo, consoante a pessoa a quem vou oferecer. E nunca recebi um ramo assim entregue em segredo, mas já fiz essa surpresa a alguém. A um Homem, curiosamente. Há precisamente 6 anos atrás no dia de hoje. Encomendei com antecedência e mandei entregar no local, no dia e na hora exacta. Talvez naquela altura ele não tenha dado o devido valor ao gesto, tenho a certeza que não, penso que ficou mais envergonhado do que feliz. Mas ainda assim, sinto um orgulho imenso por tê-lo feito. Por naquela altura aquilo que eu sentia ser tão verdadeiro e profundo que me fez ter aquele gesto sem hesitar, sem pensar duas vezes, totalmente crente de que seria a melhor surpresa que poderia fazer. E ainda bem que o fiz. E ainda bem que hoje em dia não sinto que não o devia ter feito, mesmo que ele não o merecesse.
A última prenda que dei à minha Mãe também foram flores. Um ramo de gerberas, enorme e colorido, cada uma de sua cor forte, que fiz questão de colocar numa jarra, estrategicamente na mesinha de cabeceira, para que pudesse olhar para elas da cama. Talvez já não tivesse dado por elas, talvez não tenha tido grande impacto, nem ajudou muito no quer que fosse. Mas ainda bem que o fiz. Ainda bem que naquela tarde saí de casa, em desespero, com um buraco no lugar do coração, e o pensamento perdido no meio de nada, de propósito para ir à florista comprar aquele ramo, com aquelas flores, que eram as suas preferidas.
Há gestos que têm mais significado do que o banal, o esperado, o que muitos se dão ao luxo de dizer que não gostam, que é foleiro, que não é original. Há gestos que contam histórias de vida. Que falam de amor, de afectos. Que marcam um momento para todo o sempre, um ponto de viragem. Que mostram quem tu és. O que te vai na alma. Sem capas, sem medos, sem pensar no que o outro vai pensar de ti. E são esses gestos, com mais ou menos floreados, que valem a pena. Que contam, que realmente contam, e que fazem toda a diferença.