Recebi hoje uma mensagem da minha irmã que dizia "Estou a ouvir uma cassete daquelas que tu gravavas no teu Megabass". E começou a dizer as pérolas da lado A e do lado B que a cassete continha. Ora, só o facto de estar a falar em cassete, lado A e lado B, e até o próprio aparelho, uma aparelhagem portátil que tinha sistema de som Megabass, dá-me assim um friozinho no estômago, uma saudade daquele tempo, daquela realidade, das coisas que eram importantes para mim naquela altura.
A música era uma delas. Vidrada no canal Viva, mais tarde na MTV, no "American Top 40" e (ainda hoje) fã incondicional do Ocenao Pacífico, gravava em VHS todos os videos dos meus grupos e cantores preferidos, e na rádio os tops das músicas que faziam sucesso lá fora. O primeiro CD que recebi foi da Kylie Minogue, em 90. Lembro-me perfeitamente. Seguiram-se Mariah Carey, Ace of Base, e claro... Michael Jackson. Lembro-me de tratar os cd's como se fossem peças de cristal. De abrir os livrinhos com as letras das músicas, e sem perceber uma palavra de inglês juntar o som que ouvia àquilo que estava escrito. E lembro-me de passar horas seguidas, trancada no meu quarto, a ouvir e cantar e dançar todas as músicas, muitas delas feitas antes sequer de eu nascer, e de estar no meu mundo.
Mundo esse do qual caía aos trambolhões, tipo Alice pela toca do coelho, sempre que os meus irmãos me batiam à porta, para embirrar, chatear, ou simplesmente porque sim. Passei grande parte da minha adolescência num quarto grande, com paredes forradas a posters do Leonardo DiCaprio e dos Backstreet Boys. A escrever em diários ao som de baladas. Não saía muito. Não fazia grandes loucuras. Não abusava dos horários estipulados. Não dormia fora muitas vezes. Não ia a grandes festas. Não ia para bares nem cafés. Mas vivi, à minha maneira, uma adolescência saudável e feliz. Ainda que num mundo de fantasia. Ainda que muito se passasse fora do 2º andar. Ainda que muitas vezes ficasse na varanda ou na janela com vontade de estar lá fora e a sentir-me a pessoa mais infeliz do mundo por ter uma mãe que não me deixava fazer tudo o que queria! Ela lá sabia... e, apesar de alguns excessos, tal como ela dizia "Ninguém morre de desgosto!".. Chorava umas quantas lágrimas, punha as minhas músicas e esquecia-me!