O episódio que envolveu a Jessica Athayde a desfilar em biquíni na Moda Lisboa fez com que esta pergunta começasse a circular de boca em boca, como se, de repente, ninguém se revisse naquela postura de crítica e de julgamento que toda a gente de vez em quando tem. Toda a gente: homens e mulheres. Mulheres comentam comportamentos de mulheres (e de homens), e homens comentam comportamentos de homens (e mulheres). A meu ver, não é no comentar ou criticar, ou até mesmo julgar que está o mal. É normal, faz parte, chama-se sentido critico, ter opinião, o que seria do amarelo se todos gostássemos de azul? Válida ou não, absurda ou não, cada um tem a sua opinião e parece-me de um falso moralismo atroz dizer que não se comenta ou criticam as amigas, as colegas, tal como os amigos, os irmãos, os atores, o homem do talho e da bomba de gasolina.
O que me choca não é a capacidade do ser humano em falar mal, mas sim a incapacidade para falar bem. O quão raro é ouvir um elogio sincero. Dar os parabéns por um feito. Ou comentar com a amiga no café, "Olha que gaja tão gira entrou agora!", sem ser seguido de um "Bitch!". "Ah e tal é a brincar!", não, não é. É ressabiamento.
Incomoda-me este bloqueio em valorizar e reconhecer que a colega é uma boa profissional, que faz um bom trabalho, que se esforça e é realmente boa naquilo que faz. Incomoda-me que um casal que faça uma demonstração de amor leve com um "É só fachada!". Incomoda-me que quando alguém demonstra, seja de que forma for, que está feliz, isso incomode outro alguém. Incomoda-me que o sucesso, a felicidade, as conquistas e o bem-estar de uns sejam o mau estar de outros.
Se acho que isto acontece mais entre as mulheres? Acho. Acho que temos uma maior dificuldade em lidar com o sucesso umas das outras, porque esmiuçamos mais os sentimentos, porque estamos mais atentas, porque somos mais competitivas, porque nos esforçamos horrores para ser bonitas, magras, saudáveis, bem dispostas, bem sucedidas profissionalmente, apaixonadas pela vida e pelos homens da nossa vida, preenchidas, bem resolvidas, com tempo para nós e para eles. Porque todas almejamos esse estado de plenitude que não faço ideia se existe realmente, mas para o qual damos o litro diariamente para alcançar. E se vemos alguma de nós, das amigas, das colegas, das conhecidas do Facebook, ou gaja gira do café a alcançar, a ser, fazer ou parecer uma miragem daquilo que nós ainda não conseguimos ser ou fazer... está o caldo entornado.
Hoje dei por mim a elogiar várias pessoas que são minha concorrência direta. Colegas de profissão, com os os mesmos objetivos que eu, que fazem exatamente o mesmo que eu, mas a primeira coisa que me passou pela cabeça foi dar os parabéns publicamente. E sim, o meu meio é 99,9% feminino. E não, não me senti fragilizada, nem com inveja. Não as chamei secretamente de "Cabras!" por terem feito um trabalho fantástico que pode abafar o meu. Dei os parabéns sinceros e aprendi, porque é na verdadeira admiração que se encontra a vontade de aprender mais, de fazer igual ou melhor, de evoluir. Não é a procurar erros e gralhas ou a criticar gratuitamente por desdém.
Por isso não, não somos todas tão más umas para as outras. Mas aquilo que dizemos (ou não) sobre os outros revela muito mais sobre nós mesmas do que sobre os outros. Se a incapacidade para elogiar e valorizar faz de nós más pessoas? Acho que não. Mas claramente faz de nós mulheres bem mais inseguras, frágeis e vulneráveis.
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