quinta-feira, 25 de março de 2010

O caminho faz-se caminhando...


Aos 20 anos achava que ia acabar o meu curso aos 22. Que começaria a trabalhar logo a seguir, na área que tinha estudado e que era a minha vocação. Que já teria encontrado "aquela" pessoa com quem já namoraria há algum tempo, e moraria junto há outro tanto. E que, se o cenário anterior se concretizasse na totalidade, aos 24 estaria a casar. Filhos viriam entre os 26, 27, mas antes deles muitas viagens a dois, muito namorar, e continuar feliz e contente naquele tal trabalho que arranjei logo à primeira e que me preenchia e me dava motivação, gosto e orgulho.
Aos 20 anos achava que o principal da vida era alcançar todos estes itens, em timmings que não fugissem muito do estipulado, que a felicidade era olhar à minha volta e ver que tinha conseguido, que a lista tinha todos os "check" à frente.
Com o passar dos anos vi que me faltava ter a motivação e força de vontade para terminar o curso que queria. Faltava-me a certeza da área em que queria trabalhar, e se seria realmente aquela a minha vocação. Vi que tinha encontrado pessoas tão importantes, tão especiais, e que todas foram "aquela" pessoa naquele momento, enquanto durou... e depois passou. Percebi que não queria morar junto com ninguém, que não estava preparada e que era até um assunto a evitar. Percebi que o Casamento me causava reacções contraditórias e que o melhor era nem pensar nisso. E descobri uma certa resistência à ideia de ter filhos, de ter pessoas dependentes de mim, de suportar tamanha responsabilidade vitalícia, e mais uma vez, o melhor era não pensar nisso.
Com o passar dos anos percebi que o principal da vida são os abraços, os sorrisos e os afectos. É estar saudavel, fisica e mentalmente. Ter um coração grande e rodear-me de quem me quer bem. O timming para tudo isto é um só: SEMPRE. E os "check" devem surgir dia a dia em pequenas coisas como: "Jantar com amigas do coração"- check. "Ir ver o Benfica à Catedral sempre que possível"- check. "Ver o pôr do sol ao lado daquela pessoa especial"- check. "Não me esquecer de quem sou, de onde vim e a quem devo tudo o que tenho e quem sou hoje"- check. "Dizer: Gosto muito de Ti! aqueles de quem realmente gosto" - check.
Aos 26, mais perto dos 30 do que dos 20, tudo o que eu achei que iria ser na verdade continua a ganhar forma. O fio condutor é exactamente o mesmo, e continuo a querer o mesmo que antes. Só que os timmings mudaram, e deixaram de existir. Aprendi que para chegar a um destino há tantos caminhos que se podem percorrer, e sobretudo muitas vezes voltar atrás. E isso leva tempo. E há paragens, daquelas onde simplesmente nada avança, porque não. E isso também leva tempo. E há outras alturas em que sonhar, querer, pensar, idealizar, leva tempo mas não faz caminho... e o tempo passa.
Aprendi que não são os timmings que importam nem o que é suposto fazer-se até à data X. Que ainda há muita gente que se preocupa com isso em vez de se preocupar em ser feliz, todos os dias. Por tudo aquilo que não consegui alcançar quando era suposto, por tudo o que entretanto deixei de querer alcançar, pelo que nunca sonhei vir a querer e agora quero tanto (sem pressas, mas com certezas!), algo é imutável: Não importa o tempo que demorei a chegar, o que interessa é que cheguei e que a viagem tem sido fantástica.
Não alimento frustrações nem ressabiamentos pelo que não consegui.
Não me deixa ansiosa nem em crise pensar no que ainda me falta.
Porque o caminho faz-se caminhando... e na verdade, eu estou sempre a caminho!

5 comentários:

Rita P Faleiro disse...

Adorei... o teu texto está fantástico, e confesso que me revejo em muitas das coisas que escreveste... sobretudo os sonhos que tinha quando era mais nova. Casar-me-ia aos 23, primeiro filho aos 24, teria sempre um emprego de sonho...

Acho que todos nós temos sonhos assim, envolvam ou não casamento, envolvam ou não filhos. Envolvam o que envolverem, são sonhos pessoais, e muitas vezes aprendemos que se calhar mais importante que realizar o sonho X à hora Y do ano Z é aproveitarmos cada momento da nossa vida. Nenhum momento se repete... são todos únicos, e se vivemos presos não aproveitamos o que de bom a vida nos dá a cada instante... instante este que mal é já foi...

Parabéns pelo texto fantástico! (tal como os outros que tenho sempre o prazer de ler neste teu espaço)

Beijinhos

Rita

Poetic Girl disse...

Quando somos mais novos pleaneamos as coisas de tal forma como se fosse mesmo possível as coisas apenas acontecerem porque a gente quer assim. Passei pelo mesmo. Posso-te dizer que muito sinceramente tudo o que desejei para mim aos 20 anos, acabei por não o ter nas proporções que queria. Agora madura, sei que o que importa é a forma como faço as coisas, o gozo que me dá, se me deixa ou não feliz. Não me preocupo com tempos, timmings nada. Esperava claro por este altura ter alguns patamares da minha vida mais delineados, mas quer dizer quando olho para outras vidas penso: fogo a minha vida afinal não é assim tão má. Sou livre de fazer o que gosto, tenho estabilidade financeira, tenho amigos. Ok falta-me o amor, "aquele" mas e se não estiver destinado encontrar? Não será com certeza o fim do mundo. Desculpa já me alonguei... bjs

Ritititz disse...

Rita, obrigada por tanto elogio (vou ficar mal habituada, caramba!).

Poetic Girl, por muito mau que esta expressão soe "há sempre alguém pior do que nós"..e isto não deve servir de consolo para nada, mas serve pelo menos para pormos os pés na terra e darmos valor ao que realmente tem, certo?
É essa a ideia do post: valorizar mais o que temos do que aquilo que nos falta!
Quanto ao amor que ainda não apareceu... destinado ou não... acredito que ele ande por aí..e onde e quando menos esperares aperece à tua frente! :) Está atenta!

Rita P Faleiro disse...

Pips, não é para agradecer... é que de facto adoro os textos que aqui colocas, acho que te expressas francamente bem... e não podia deixar de o dizer =)

Beijinhos

Rita

M. disse...

" - uma salva de palmas...."
" - outra vez, outra vez! "

É assim que se fala Pips!!! Ou se escreve... ;)