segunda-feira, 21 de junho de 2010

Get Carried Away...


A propósito de "Sex and the City 2", que deixou muito a desejar a muito boa gente segundo li e ouvi, apenas tenho a dizer que eu cá gostei. Gostei e muito. Sorri, ri às gargalhadas, identifiquei-me, e percebi porque é que aquele foi o caminho escolhido por Michael Patrick King.
Por detrás da monstruosa máquina de marketing que dá todo o glamour e brilho às personagens, que nos encantam com os seus modelos de griffe e alta costura, com os sapatos de estilistas e criadores do mais alto gabarito mundial, ao qual 99% de nós, pequeninas Tugas, nunca teremos oportunidade de pôr as manitas em cima... está a história de vida de 4 Mulheres. Da amizade entre elas, do evoluir das suas vidas ao longo dos anos, das carreiras, desgostos e sucessos, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas, desejos e sonhos. E é essa mensagem que muitas vezes passa para segundo, ou terceiro plano, o que é pena.
Aquilo que se vê em primeira estância é a futilidade e vaidade das personagens, os vestidos, os sapatos, as festas, os affairs, os homens, as relações e as muitas não-relações a que assistimos ao longo da série. Contudo, em ambos os filmes, focaram claramente bem mais a evolução da maturidade das personagens, e as mudanças que cada uma ia sentindo relativamente ao que desejava construir à sua volta.
Porque há alturas na vida de qualquer mulher, Nova Iorquina ou Tuga, com mais ou menos glamour, em que pensar naquilo que se vai vestir logo à noite deixa de ser a coisa mais importante que nos ocupa a mente. Há alturas em que deixamos de comprar roupa compulsivamente, para ter tudo e mais alguma coisa, e paramos de agir por impulso, para compensar carências e acalmar neuras e insatisfações constantes. Há alturas em que ter 750 pares de sapatos deixa de ser motivo de orgulho e exibição, e passa a ser motivo quase de vergonha, se fizermos conta ao dinheiro que ali foi gasto, em calçado que já nem nos lembramos que tinhamos, e que sabemos que nunca mais vamos usar. Há fases em que o "programa das festas" somos nós que o fazemos, seja ele qual for, onde for, com quem for, quando nos apetecer. E não nenhum cartaz com dress code, nomes de bebidas e de DJ's que supostamente toda a gente gosta porque é fashion gostar. Chega uma altura em que deixamos de ter ansias de querer ver e ser vistas. E somos perfeitamente felizes na invisibilidade da nossa bolha.
Há um momento na nossa vida em que os affairs deixam de fazer sentido, porque não passam disso mesmo: affairs, passageiros, sem sentimento, sem aquele querer que nós queremos ter e que tenham por nós. Em que "Homens", no plural, deixa de ter graça porque não os queremos a fazer fila, nem a entupir o telemovel com convites parvos. Queremos apenas e só UM, com o qual temos vontade de fazer tudo e nada.
Há um momento na nossa vida em que nos apaixonamos, a sério, e tudo o que ficou para trás parece mais um episodio da nossa série preferida, que vivemos intensamente, mas que foi pura ficção. E é nesse momento que, inconscientemente, sem estarmos à espera, sem termos querido, desejado, ou feito absolutamente nada por isso, nos vemos a viver uma relação. Uma à séria, seja qual for o rótulo que lhe queiram dar, mas que seja saudável, equilibrada, sem ter que provar nada a ninguém, sem ter de abdicar do quer que seja, um complemento bom, um bónus na nossa vida, ter uma ligação saudável com alguém que seja nosso amigo, companheiro, ouvinte, e que goste de nós, como nós gostamos dele.
É o evoluir natural, é crescer, amadurecer, cada mulher à sua maneira, com mais ou menos floreados, com namoros, noivados e casamentos, ajuntamentos, uniões de facto ou simplesmente parceiros de vida. E depois vêem (ou não) a casa, a família, o cão e o piriquito. As festas com cupcakes, o chorar dos bebés, as festas na escola que não se querem perder. E ante-estreias haverá sempre, mas preferimos, e ficamos muito mais felizes por ir às mesmas com aquela pessoa, a tal que é o "Bónus". Tal como há dias em que nada nos fará sair do sofá a ver um filme a preto e branco.
E a cereja em cima do bolo é conseguir manter as Amigas, aquelas, as verdadeiras, aquelas que já eram almas gémeas antes de o "Bónus" aparecer, sempre por perto, mais ou menos, mas perto o suficiente para sabermos que estão lá, seja onde for. Que cada uma tem a sua vida, o seu próprio "Bónus", as suas necessidades, vontades e quereres, mas que não deixamos de ser nós próprias nem nos esquecemos da importância que a Amizade tem. Ou deveria ter. A cereja em cima do bolo é conseguir ter tudo e que nada se perca pelo caminho. Não ser julgado pelas escolhas que se fazem, nem pelas vontades (ou falta delas) que se tem. Ficar feliz pela felicidade do outro, e não entrar em competições nem alimentar ressabiamentos.
É por tudo isto que eu também percebo que para muita gente o filme tenha sido "desenxaibido", como se diz lá na minha serra. Que não tenha acrescentado nada de novo, não houve desgraças nem revelações chocantes, doidices nem escândalos de caírmos da cadeira abaixo. Mas acho que o objectivo era esse mesmo. Mostrar que chega uma altura das nossas vidas, em que não queremos novelas, nem dramas, nem loucuras do caixão à cova... e o final feliz faz-se dia após dia, todos os dias, vencendo as rotinas, os hábitos, os problemas "menores" próprios das relações. Não acho que isso empobreça o filme em conteúdo ou qualidade. Tal como não acho que quem passa a querer isso para si se torne menos interessante, mais aborrecido e deixe de ser o que era. Mas percebo que para quem não se identifica com as fases ali retratadas, tenha ficado desiludido ou sentido que o filme fica aquém das expectativas.
Tal e qual como na vida real... quem não está a viver a mesma fase que tu, sente sempre que estás a desiludir e esperavas muito mais da sua parte.

6 comentários:

E? disse...

Excelente texto!
Identifiquei-me com o que disseste, porque foi precisamente isso que senti ao ver o filme e ao ler as críticas.

Há quem foque as roupas e os sapatos, mas para mim isso ficou totalmente em segundo plano num filme cuja perspectiva me agradou muito.

Inês disse...

Olá.
É a primeira vez que deixo aqui um comentário, mas já ando a espreitar o teu blogue há algum tempo.
Não vi o filme, mais por falta de tempo do que por outra coisa. Mas o que escreveste neste post (estando mais ou menos relacionado com o filme) é perfeitamnte lógico no meu ponto de vista. Independentemente das idades, de se ter ou não um bónus, ou 3 ou 20 amigas, por norma chega sempre a altura em que deixamos de dar relevância total a algumas futilidades como dizes. Não significa que não sejam importantes, ou que deixemos de ligar pura e simplesmemte a um par de calças novo ou àqueles sapatos que amamos....simplesmente mais cedo ou mais tarde surgem vá...outras coisas com as quais nos preocupamos.
Bjs

Nuno T disse...

Eu cá acho que retiraste uma conclusão demasiado inteligente de um filme que não pretendia esse tipo de ilação!

Ritititz disse...

Hoje vou casar assim: Obrigada! É isso mesmo!

Inês: Olá! Sê muito bem vinda, então e comenta sempre que te der na real gana! Vê o filme, pelo teu comentário parece-me que vais gostar!

Nuno T: Obrigada! (??) Vou considerar o teu comentário um elogio, vá!

Unknown disse...

Mais uma vez, excelente post:) Ainda não vi o filme, mas sempre achei que a série e o 1 º filme são acima de tudo a história de 4 amigas que colocam a sua amizade acima de tudo, que se apoiam em todos os momentos.Crescem, têm desilusões, cometem loucuras, mas nunca deixam de estar juntas, e amizades dessas há muito poucas!!Bj!

Neferet disse...

Concordo contigo,escreveste muito bem e até me estou a sentir inspirada pelo teu post!:-) Mts bjnhos!