segunda-feira, 21 de maio de 2012

Da educação



Lembro-me de ser pequena e assistir a súbitos ataques de nervos do meu pai, em pleno restaurante, ao ponto de se levantar da cadeira e ir para a rua por um tempo até se acalmar. Tudo porque a pessoa da mesa ao lado estava a comer de boca aberta e a fazer barulhos, ou a sorver a sopa ou a bebida, em vez de comer e beber silenciosamente. Lembro-me de o meu avô me perguntar "És maneta?", quando eu comia apenas com uma mão e deixava a outra sobre o colo. Até podia comer só com a mão direita, mas a esquerda tinha de estar pousada sobre a mesa. Lembro-me de a minha avó me martirizar para dizer sempre "Obrigada" ("com A porque és menina!") e responder "Não tem de quê", se me agradecessem algo. Lembro-me de a minha mãe não aguentar ver-me com o pingo no nariz e estar constantemente a dizer: "Assoa-te!". De me encher de pacotinhos de lenços de papel pequenos, com bonecos e cheirinho, para eu gostar de os usar, e nunca, jamais, em tempo algum, andar com o pingo no nariz a "fungar" de minuto em minuto.
São coisas pequeninas. Podem ser embirrâncias até. São coisas que passam totalmente ao lado de muita gente e que não lhes fazem qualquer confusão. E são coisas que a mim me tiram do sério. Talvez porque me esteja de facto nos genes e hoje percebo e sinto os mesmos ataques do meu pai. Também eu tenho vontade de sair porta fora ou mandar dois berros quando vejo (ou ouço) determinadas coisas. Talvez porque assim fui ensinada. Mas tal como houve um esforço para me incutirem determinados comportamentos, também me ensinaram e explicaram que nem toda a gente foi educada da mesma forma (ou de todo). Disso felizmente nunca me esqueci, e é sempre nisso que penso antes de criticar ou chamar a atenção de alguém. Por muito que me incomode ou impressione determinado ato. Educação, para mim é isso: corrigir em nós o que está mal e ser tolerante o suficiente para perceber que os outros não são como nós. É isso que espero poder passar um dia aos meus filhos.

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