quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Novo Acordo não chega a acordo



Desde fevereiro que escrevo com o novo acordo ortográfico. Mas só esta semana a empresa onde trabalho deu uma formação de 4h sobre o dito cujo. E digo-vos que 4h, mesmo para quem já está há 9 meses familiarizado com o assunto, não chegaram para interiorizar tudo. Porque há muita regra com exceção, porque as exceções não têm razão de ser, porque é difícil decorar cada uma delas, mas sobretudo porque todas as palavras estão ligadas a imagens, e de repente a imagem muda e a nossa cabeça entra em curto-circuito.
Mas vai ter que ser. E não percebo como é que colegas meus de profissão, que deveriam ser os primeiros a dar o exemplo, continuam a apoiar-se em argumentos como: "fica feio", ou "estamos a 'desaprender' o português", ou ainda "recuso-me a falar como os brasileiros"(esta é a melhor de todas já que o acordo é ortográfico e não muda absolutamente nada na forma de pronunciar a língua) e mostram tamanha resistência.
O acordo foi assinado em 1990, e por isso chamá-lo de novo é um bocado parvo. Mas tal como quando mudámos dos escudos para o euro, ninguém nos perguntou se queríamos ou não mudar. (Porque se perguntassem toda a gente dizia que não, o Tuga nunca quer mudar nada, o Tuga não é Tuga se não tiver uma costela de Velho do Restelo). Mas foi assinado pelos países de língua oficial portuguesa para criar uma ortografia oficial única, a ser usada pelos mesmos, e de forma a aumentar o seu prestígio internacional. Tal como o castelhano que apresenta variações de pronúncia e vocabulário, mas uma só forma de escrita. Mais do que um acordo linguístico, foi questão política, e daí a influência brutal e com a qual nunca conseguiremos competir, do Brasil. E sim, é verdade sim senhor que a língua-mãe é nossa, e que deveriam ser eles a adotá-la. Mas nós, neste nosso cantinho à beira mar plantado, cabemos num cantinho do estado de S.Paulo! E isso muda tudo...
Resumindo e concluindo: não sou contra nem a favor do acordo. Sou a favor de escrever bem a língua portuguesa. E se a língua vai ter novas regras, pois há que cumpri-las. Se "ótimo" é horrível, se "contraceção" é estranho, se "minissaia" é ridículo? Se calhar é... mas é uma questão de hábito e contra factos (que continuam com C) não há argumentos.
Por isso, grandes empresas nacionais e multinacionais, cujos responsáveis pelo marketing afirmam "o novo acordo ortográfico não é uma prioridade para a empresa, mas no último trimestre de 2012 daremos especial atenção ao tema", provavelmente não sabem que a nova ortografia está a ser implementada como única forma correta na comunicação social e no ensino escolar, pelo que a ortografia antiga vai ser considerada errada. Mais informo que embora o período de transição se prolongue até 2015, a partir de 1 de janeiro de 2012 será aplicada ao Governo e a todos os serviços e organismos dele dependentes, bem como à publicação do Diário da República.
Vamos lá facilitar a coisa, fazer o nosso trabalho (no caso do jornalismo) e dar o exemplo! Primeiro estranha-se... depois entranha-se!

3 comentários:

Teresa (Miss Healthy) disse...

Concordo contigo mas há uma coisa que acho estranho: é que existem palavras em que este novo acordo veio tornar diferentes. Estou a falar daquelas em que os barileiros pronunciam o c e nós não e que para eles vão continuar a ter c e para nós não. E isso vai contra o objectivo do acordo que era unificar a forma de escrita.

Ritititz disse...

Miss G, daquilo que me foi transmitido na formação, essas alterações acontecem exatamente pelo que tu disseste: porque no Brasil eles pronunciam essas consoantes que para nós são mudas. Por exemplo "Recepção" ou "decepção". Como a regra é que caiam todas as consoantes mudas, para nós portugueses há alteração dessas palavras. Para eles não muda porque aí estaria a interferir com a pronúncia e as alterações são apenas ortográficas.

Teresa (Miss Healthy) disse...

Claro e eu percebo isso e sei que tinha de se criar uma regra. Mas é um bocadinho estranho que num acordo que quer uniformizar se mude aquilo que já era igual. Percebes o que quero dizer?