domingo, 1 de junho de 2008

Pips...em "piquena"...

Era refilona, mimada, gostava de mandar e amuava de vez em quando.
Adorava saias e vestidos, com o máximo de roda e folhos possíveis.
Tinha 20 Barbies, todas de longos cabelos que penteava, lavava com direito a champô e amaciador, e fazia os mais belos penteados durante horas a fio, sem incomodar ninguém.
Nunca quis ter nenhum Ken, porque achava que as Barbies entre elas se divertiam muito mais, sem precisar de figura masculina que nunca iria entender aquele universo cor-de-rosa.
Adorava maquilhar-me às escondidas da minha Mãe, e depois passear-me pela casa com o ar mais descontraído do mundo, na esperança de que ela não reparasse no baton castanho escuro que saía para fora do contorno dos lábios, da sombra roxa em torno dos olhos, e do blush cor de rosa choque por toda a cara. (Ela reparava e não ligava nenhuma...acho que dava eu mais uso à maquilhagem nessas brincadeiras do que ela própria!)
Passava 20h por dia a cantar.
Vivia num eterno desgosto porque o vestido de noiva da minha Mãe era curto e sem roda. Nunca consegui entender (ainda hoje não consigo) como é que ela pode ter querido casar com um vestido assim! Ok...era lindo! Discreto e de uma simplicidade que não podiam estar mais de acordo com quem o escolheu! E sim...Ela estava linda! Mas eu achava que Ela tinha a obrigação de pensar que, anos mais tarde, iria ter uma filha, cuja grande parte de sua felicidade infantil ia depender das horas e horas que poderia passar enfiada num vestido longo a arrastar pelo chão até ao infinito....
Comia tudo com muito açúcar: leite com chocolate e açúcar, iogurtes só com várias camadas de açúcar, cereais sempre com muito açúcar. Era exagerado, eu sabia, mas não tinha coragem para experimentar diminuir a dose. Tinha medo da decepção.
Adorava sair à noite com os meus pais, para cafés ou bares. Sendo a única criança, o esperado era nem querer ir, ou então aborrecer-me de morte! Nada disso...adorava ouvir as conversas todas sem interromper e fingir que já era muito crescida também. Sentava-me de perna cruzada, pedia um carioca de limão dos pequeninos e tinha segredos com as amigas da minha Mãe. E quando o sono apertava dizia: "Vá, agora vou só contar até 100 e depois vamos, está bem?" E lá começava eu na contagem, baixinho, fiel e sem batotas, até à centésima casa....que era quando geralmente me diziam: "Só mais 100, Ritinha! E já vamos..."! E eu, que não era de fazer birras, aninhava-me, em posição pseudo-fetal e retomava a contagem...até entrar em estado totalmente zen. Depois ouvia lá do fundo: "Bem, vamos embora, porque a Rita já está a dormir...!"
E despertava automaticamente das profundezas, cheia de sentimentos de culpa, por saber que eles se estavam a divertir e tinham de ir embora... então dizia completamente ensonada: "Não estou nada! Estou a contar com os olhos fechados...e só ainda vou no 60, por isso podemos ficar mais um bocadinho!"
Fui extremamente "mimada" por 4 avós muito queridos, fui filha e neta única durante 8 anos, que me deram privilégios de estrela, de vedeta, e brilhar no palco da família sempre em horário nobre! Não me lembro de ter castigos ou punições. Mas lembro-me de sentir que fui muitas vezes recompensada e presenteada sem motivo aparente...apenas porque sim, porque era muito amada!
Era feliz e não sabia. Nem sequer pensava nisso! Nem fazia ideia de que o conceito de felicidade pudesse ter antónimo.
Posso queixar-me de muita coisa, mas não podia ter tido uma infância mais feliz do que a que tive.
Obrigada por tudo o que me deram e não lamento nada que tenha ficado por dar!

P.S- A foto não é minha...mas achei que podíamos ter sido amigas, sei lá!

2 comentários:

Osga disse...

Um Ken dá sempre jeito, nem que seja para levar para a rua o lixo!! :D

bjs :*

paddy disse...

É sempre bom recordar os tempos de criança :) (falo eu, como se fosse muito grande)