quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Começar do zero


É daí que se começa sempre...ou deveria ser. Mas quando se começa, de facto, algo que é inédito, uma primeira experiência, uma estreia nas nossas vidas, nem sequer utilizamos essa expressão. Estamos apenas a "Começar", ponto.

"Começar do Zero" não é mais do que uma redundânica que vem reforçar um eufemismo para "Recomeçar algo que já foi tentado anteriormente, uma ou mais vezes, e que não deu certo"...porque se tivesse resultado à primeira não haveria a necessidade de se começar de novo, na esperança de que usando a expressão mágica, fosse de facto possível apagar tudo o que já foi vivido.

Estava ansiosa pelo início de 2008...mentira! Estava ansiosa pelo fim de 2007! Enterrar este ano horrivel, doloroso, de perda, de tristeza, de angústia, de desamparo, de medo... Como se as 12 badaladas, por magia, pudessem apagar o que foi vivido, e fazer com que 2008 fosse o "Começar do Zero" que estou a precisar.

Óbvio que não apagou nada. E ás 00:01H de 1 de Janeiro de 2008 sentia-me exactamente na mesma. Meti 12 passas na boca, sem saber bem porquê, porque nem tempo tive para formular os meus 12 pedidos, muito menos fazê-los em tempo record em contagem decrescente...(logo eu que não gosto nada de passas!).

Percebo agora que "Começar do Zero" é uma ilusão. Ninguém esquece nem apaga da memória, do coração e sobretudo da alma aquilo que já viveu. Sobretudo as coisas menos boas, que, irónicamente, são aquelas que mais nos marcam e que vão servir de referência para o resto da vida. Ninguém começa um novo dia, uma nova relação, uma nova experiência, sem fazer termos de comparação, balanços, tirar esqueletos do armário, olhar para debaixo do tapete para ver se a poeira que para lá mandamos em vez de aspirar e limpar de vez, ainda lá está, e sobretudo ninguém começa do zero conscientemente. Recomeça-se. Cada dia, do ponto onde deixamos ficar no dia anterior, retrocedendo, avançando, a medo, com arrependimentos, com hesitações, com surpresas, com angústias e ansiedades, com a consciência mais pesada ou leve, mas nunca do zero.

Hoje sou o produto de tudo o que fiz, do que me fizeram, do que eu deixei que me fizessem, e do que me aconteceu sem culpa minha nem de ninguém, no dia de ontem, anteontem, e cada dia que vivi nestes 24 anos.

Não vou começar do zero. Vou retomar o que estava a fazer, acabar o que está pendente, seguir com mais vontade e força, corrigir onde estava a errar, aceitar o que já perdi, e esperar de braços abertos pelo bom que está para vir.

Um grande 2008, com muitos Recomeços positivos, empreendedores e conscientes para todos os nossos leitores e comentadores assíduos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não podemos esquecer o que está para trás porque é isso que influencia o que somos hoje...Não podemos renunciar às nossas vivencias boas ou más porque isso seria apagar momentos da nossa existência,e a vida é demasiado curta para isso!
Bom ano a todos!!!!

Micaela Neves disse...

Estou aqui, para te ajudar a chegar aos 100, aos 1000 e por aí fora.
BOM ANO!