É como me sinto não raras vezes.
Não sei porque sou assim, porque tenho essa tendência, mas o que é certo é que acabo sempre por cair na tentação de defender quem não precisa de defesa, de tentar ver o lado do outro (mesmo que seja o antípoda do meu), de tentar ir além do óbvio e desculpar o que não sei se é desculpavel ou não, mas em caso de dúvida que seja inocente até prova do contrário.
Não sei porque me dou a tal "trabalho", não ganho nada com isso, antes pelo contrário, ouço comentários de reprovação, de ser demasiado condescendente, em tempos o adjectivo comum chegou até a ser "Panhonha". Não confundir com demasiado boazinha, com ingénua ou naive... coisa que frequentemente também acontece, para os mais distraidos e para aqueles que conseguem ver pouco mais do que aquilo que querem realmente ver.
Não sou melhor que ninguém, mais correcta ou de melhor formação. Mas sempre detestei juízos de valor, julgamentos e condenações sem direito a defesa. Porque toda a história tem dois (ou mais) lados, porque cada pessoa é um mundo, e ninguém se deve sentir no direito de opinar ou reprovar o comportamento dos outros apenas porque sim, porque acham que no lugar do outro fariam assim ou assado, porque às vezes simplesmente sabe bem criticar a custo zero, destilar veneno, mesmo que seja do mais fraquinho, fazer comentários ou mandar bocas para o ar em tom sarcástico e com uma pitada de ironia que julgam passar despercebida do outro lado.
Não passa.
Há uma expressão engraçada que fala sobre "calçarmos os sapatos dos outros". Eu raramente os calço, porque só o facto de achar que aquele sapato me pode servir, é por si só sinal de arrogância. Quem sou eu para achar que no lugar do outro faria de outra maneira? Quem sou eu para criticar determinado comportamento, quando não faço ideia do que se passa realmente do outro lado, porque nunca ninguém sabe! Mas toda a gente acha que sabe, e toda a gente gosta de falar, de dar o ar da sua graça, de dar palpites, de fazer moralismos, de se comparar de forma subtil, metáforas tais onde o arguido sai sempre condenado pelo bom senso de quem muitas vezes não o tem.
Se eu já o fiz? Claro que sim! Não sou perfeita, e é óbvio que caio nessa tentação, é humano, é quase impossível de controlar, que mais não seja em pequenas coisas do dia a dia. Mas faço um esforço para não o fazer, para guardar para mim opiniões sobre modos de vida, escolhas e defeitos de terceiros. E quando o faço, mais cedo ou mais tarde dou por mim a arrepender-me, a achar que não devia ter feito, que não tinha moral nenhuma para estar a criticar ou julgar certos comportamentos.
Sempre tive esta característica, de em grupo deitar a àgua na fervura e nunca atiçar a chama. Sempre tive uma coisinha chamada consciência a gritar bem alto na minha cabeça, pedindo justiça e equilibrio nas minhas afirmações e nas dos outros, para depois não me arrepender de nada. Sempre tive a mania de mostrar ao resto do mundo o lado bom de quem só se falava do lado mau, de repor verdades quando eram deturpadas, de fazer ver que nem tudo é preto e branco e que só no arco iris temos 7 cores diferentes. Que nas costas dos outros vemos as nossas e muitas são as vezes em que me pergunto quem me defenderá quando for eu o "Diabo"? Que nem todos tivemos a mesma educação, os mesmos previlégios e chamadas de atenção básicas durante o crescimento. De que a definição de "certo" e "errado" nem sempre é imutável. Que aquilo que nós achamos ser uma má escolha, pode ser a escolha mais acertada que a outra pessoa está a tomar naquele momento da sua vida. E acima de tudo: que todos temos telhados de vidro... e o mais irónico é que aqueles cujo vidro é mais fininho, são os que mais morrem de vontade de atirar a primeira pedra.