quinta-feira, 29 de maio de 2008

Mr. Snowman

Já estou contactável. Pelo menos por uns dias, que vim passar o fim de semana mais cedo à outra casinha, e por cá, Pc é luxo que não falta. Aliás, escrevo do portátil, deitada na caminha, cheia de de mimos...tão bem que sabe!
Fiz a minha ronda diária pelos cantinhos vizinhos, larguei umas quantas baboseiras aqui e ali, e de tantas coisas que ando a anunciar há tantos dias sobre as quais quero escrever, houve uma que não me saiu do pensamento. Depois achei que era demasiado pesado, que era forte, que podia ser despropositado, que tinha temas tão diferentes, tão leves, alguns de pura banalidade mas daqueles que me fazem luz e penso sempre "tema de post!" com sorriso nos lábios...
Mas o "tal", sem direito a sorriso, continuou sempre a martelar e a persistir na minha cabeça...e foi então que me apercebi que, mesmo inconscientemente, é um assunto que me tem perturbado, que dou comigo a pensar sem razão aparente, do qual faço associações, suposições, perguntas disparatadas e absurdas...enfim..não me sai do pensamento.
Chega de suspense barato.
Na semana passada recebi a notícia de que um conhecido meu se tinha suicidado. Sim, digo conhecido friamente, porque não éramos amigos, não éramos colegas, não éramos "amigos de café", nem nos cruzávamos frequentemente. Conheci-o em Dezembro, já tinha ouvido falar nele, e fiz um trabalho de dois dias com ele. Simpático, educado, bem-disposto, prestável, não muito falador mas não propriamente introvertido. Poucos são os adjectivos que posso usar para o descrever porque, como disse, não o conhecia de facto. Mas o pouco que conheci, gostei.
Gostei sobretudo de ver o à vontade que ele teve em aceitar vestir um fato de Boneco de Neve completo, extremamente quente, sem quaisquer vergonhas nem pudores, e de andar a passear-se pelo centro comercial, galeria acima galeria abaixo, a distribuir brindes e postais de Natal a quem passava, sempre com um sorriso, apesar da timidez e algum desconforto que o fato não deixava esconder.
Lembro-me, emocionada, de dois meninos que usaram o postal que ele estava a dar, para fazer um desenho no seu verso, de um Boneco de Neve rodeado de prendas e escreverem: "Feliz Natal, Sr. Boneco de Neve!" e de lho irem oferecer de seguida. E lembro-me de ter a certeza de que aquele simples gesto tinha feito a diferença naquele dia da vida dele, porque eu própria senti isso, ainda que o desenho não fosse dirigido a mim. Era o espírito natalício, era o estar a lidar com crianças, o oferecer brindes e prendas sem elas estarem à espera, e ver as suas reacção de gratidão e alegria...algo tão simples, mas que, acreditem que para quem estava ali, fazia muita diferença. E lembro-me de ele ter vindo ter comigo, mostrar-me feliz o desenho, que com certeza guardou. Nesse dia deu-me boleia até casa, e depois disso não o voltei a ver.
Na 5ªfeira recebemos a triste notícia, e os pormenores não interessam para o meu post que serve apenas para dizer que fiquei com medo. Soube-se que lhe tinha sido diagnosticada uma depressão profunda há pouco tempo e pouco mais. Chorei compulsivamente quando soube, como se de um grande amigo se tratasse. Fiquei assustada. Fiquei com medo...não sei bem de quê. Milhões de perguntas surgiram na minha cabeça. E desde então continuam a ecoar dentro de mim. São clichés: o que passará na cabeça de alguém que comete suicídio? Será justo dizer que é um acto de cobardia? Porque o mais normal é dizer-se "como é que teve coragem para....?" O sofrimento que estaria a sentir era de tal forma intenso que nada o poderia aliviar? E quem o amava? Quem de repente tem de lidar com a impotência de ter perdido alguém que assim o escolheu, foi uma fatalidade, sim, mas não do destino. Comecei a pensar que como ele deve haver (e há, porque entretanto fui pesquisar sobre o tema) centenas de jovens a viver em depressão diagnosticada, medicada e por isso de alguma forma controlada, mas há uma grande percentagem que não tem sequer consciência do seu estado depressivo e que vive com a doença, à beira do abismo, sem medo de avançar sobre o mesmo, pois a sua percepção do real se encontra totalmente envolvida numa doença que é sobretudo, silenciosa.
Fiquei e estou triste. E ainda que apenas por dois dias, ainda que numa passagem tão efémera e subtil que Ele tenha tido na minha vida, ainda que o contacto entre nós tenha sido mínimo e discreto...sei que me vou lembrar d'Ele e recordá-lo com carinho por bastante tempo. Há pessoas que surgem na nossa vida sob a forma de anjos, Ele surgiu na minha sob a forma de Boneco de Neve, que derreteu aos primeiros raios de sol de Primavera...Até sempre.

3 comentários:

Osga disse...

Mais ninguém vai ser o boneco de neve.Aquele vai sempre ficar no teu coração.

Ainda existem raparigas com sensibilidade para ver isso, não mudes miúda!

bj :*

Inês disse...

Não sei que te diga. A depressão é uma doença que eu não percebo. Não percebo nos outros e não percebo em mim. Espero não passar por ela e espero um dia percebê-la melhor.

kel disse...

Imagino o q deves ter sentido... Faz este ano, 4 anos cheguei a casa do trabalho e recebi a noticia de que um ex-colega de trabalho, com quem até me tinha ficado a dar bem, se tinha suicidado... tinha falado com ele no msn dois dias antes. Fiquei triste e assustada e, sobretudo, naquele momento senti-me um pouco responsavel. Milhões de perguntas invadiram a minha mente, n consegui dormir durante vários dias... Várias vezes me recriminei por não ter percebido que alguma coisa se passava, por ter notado algo na conversa q tinhamos tido apenas dois dias antes. Não eramos grandes amigos, tinhamos trabalhado juntos durante o meu estágio, ele pertencia já à empresa e os nossos departamentos necessitavam frequentemente um do outro e então fomo-nos cruzando e acabamos por continuar a falar. Não com mt regularidade mas de quando em quando... Ainda assim senti q devia ter feito alguma coisa... Como se fosse possivel adivinhar estas coisas... A depressão é uma doença como qq outra e tão ou mais grave que aquelas q se manifestam numa dor fisica. É uma doença silênciosa, q vai corroendo aos poucos aqueles q perderam toda a esperança. Há quem diga q o suicidio é uma cobardia, eu acho q é um misto de falta de coragem para continuar a lutar e uma extrema coragem para partir para o desconhecido, decididos a suportar a dor q isso lhes possa causar. Qq q seja a interpretação, acho q é preciso estar-se mesmo mt desesperado p conseguir por fim à própria vida e é sobretudo isto q me choca, q me entristece, q me assusta... Naquela altura custou-me mt superar, se fosse com alguém mais próximo n sei como seria. É preciso afastar os pensamentos, as perguntas, as dúvidas q nunca serão respondidas, para conseguirmos voltar a sentir alguma paz.

Beijo grande