Aquilo que custa a perceber, e sobretudo pôr em prática em muitas das relações de hoje em dia, é a tendência que temos para dar aquilo que gostaríamos receber.
Quem adora chocolates, como eu, acha sempre que uma caixa de Ferrero Rocher, de Milka ou Serenatas, é um miminho excelente para se oferecer. E toca de comprar, embrulhar com um laço lindo e maravilhoso, e dar do fundo do nosso coração, na esperança de que partilhem um ou dois connosco.
Mas a verdade é que há quem não goste de chocolate. Sacrilégio, bem sei. Faz confusão, pois faz. Mas é possível. Há mesmo quem não ligue muito, ou simplesmente prefira gomas. Adore gomas, de todas as cores, formatos e feitios, mas são as gomas que fazem os seus corações bater mais forte e as bocas salivar!
E é aí que a coisa se complica. Primeiro porque temos que aprender a conhecer o suficiente o outro para percebermos que a sua paixão são as gomas, e não o chocolate. Depois aceitar que, por mais que nos pareça surreal que se prefira gomas em detrimento de chocolate, se queremos realmente dar ao outro aquilo que ele precisa, de que sente falta, e que o faz feliz, temos de dar aquilo que ele quer, e não o que nós quereríamos no lugar dele!
A verdade é essa; temos a tendência para colocar um espelho à frente da nossa cara metade, e sentimo-nos extremamente injustiçados quando sabemos que estamos a dar tudo: o essencial, o básico, o secundário, o supérfluo, o acessório, tudo e mais alguma coisa... e mesmo assim continua a faltar algo. Porquê? Porque tudo o que demos foi o que queremos receber de volta, e não aquilo que o outro realmente quer.
Se é fácil fazer este exercício e dar mais atenção à vontade da outra pessoa, mesmo que a nós nos pareça despropositado ou completamente secundário, quando haveria tanta coisa mais importante a dar ou fazer por ela? Não. Não é nada fácil. Custa, dá-nos a volta ao miolo, a nós principalmente mulheres, que tendemos a analisar tudo, a colocar tudo em perspectiva, em prioridades, a discutir, descodificar e descortinar. Mas às vezes simplesmente é mais fácil pensar como um homem e perguntar o que é que ele quer, o que é que o faz feliz. E fazê-lo. Só isso. Sem análise. Sem paralelismos com a nossa vontade, com actos de submissão ou cedência excessiva.
O resultado: uma quantidade considerável de neurónios preservados, arrelias evitadas, um homem feliz em casa, e que, na primeira oportunidade, fará o mesmo por nós. A nossa vontade. Aquilo que nós precisamos, queremos mesmo, nos faz mesmo falta, ao que damos real valor. Mesmo que esteja a milhas da vontade dele, das prioridades dele, do seu pensamento. Ele vai querer retribuir.
Experimentem.